sábado, 20 de dezembro de 2008

A EXISTÊNCIA DE TERESA

CARTA P/ O AMIGO

A noite se aprofundando com suas raízes negras sobre a terra. Eu sou um suspiro e respiro cheia de mistério. Minha vida espalhada pelos confins dos mundos. Quero me despedaçar em infinitos átomos e povoar o universo inteiro. O movimento da minha mão a balançar a caneta é rítmico e cíclico como as estações do ano. Está chegando dezembro e as pessoas engendram seus enfeites e espíritos natalinos. Eu estou viva e preciso de amor. Estou esgotada pela confusão dos homens e mesmo assim tenho forças para precisar do amor.
De repente, não quero livros, nem monumentos, não quero nomes, não quero posteridade. Não quero Iso ou Aquilo. Quero ser e deixar escorrer o momento, esse momento que se esgota, os diálogos na televisão ligada ali na sala e esse forro de mesa com peixinhos, navios e faróis. Quero eu nessa cena absurda, eu que movo minhas pernas frenéticas e morro um pouco a cada segundo. Quero estar para ser o inverossímil humano. Estou trespassada pelo heroísmo de nossa derrota diariamente anunciada. Lá de fora, a noite se afunda e engole ainda mais a terra, e aqui dentro de mim minha escuridão sobrevive graças a minha pequena e insistente chama de vida: Amor! Amor! Amor! Esperança ao fim! Em breve, a escuridão será plena e então ela mesma se extinguirá no vazio opaco da não-existência, e minha mão não mais balançará sobre a terra e minha boca não mais pronunciará meus cantos de amor. Em breve, muito mais breve do que eu espero, minha alma não mais se refletirá no fulgor dos meus olhos, meu ser secará sobre a terra, e minha morte, por sua vez, se despedaçará em infinitos átomos e abarcará o mundo inteiro, que não será sequer o vulto de uma lembrança.

08/11/2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

GORKI, Máximo

"(...)
E acrescentou com um acento de tristeza:
- Mas raro sucede que eu queira alguma cousa.
- Pelo contrário, eu quero sempre alguma cousa - replicou Malva. - Quero... o quê? Nem sei. Às vezes quisera meter-me numa barca e perder-me ao longe na vastidão infinita das ondas. Tão depressa sinto lástima de todos, sobretudo de mim própria, como sinto desejos de matar todos e dar a mim própria uma morte horrível. Quero rir e me aborreço, porque, afinal, os homens todos não merecem um pouco de atenção; são volúveis como piões.
- De madeira podre - acrescentou Serejka. - Bem dizia eu: não és gato, nem pássaro, nem pez... és um pouco de tudo... em nada te pareces com as outras mulheres.
- Graças a Deus - replicou ela, sorrindo.
(...)"

In.: GORKI. OS VAGABUNDOS - Malva.
Tradução de Araujo Alves

domingo, 14 de dezembro de 2008

carta p/ d. de olhos cálidos

(...) Para poder lhe dizer exatamente (ou quase isso) o que se passa comigo ultimamente somente por meio de misteriosas metáforas.
Pois o meu mundo é insano como o olhar da menina psicótica que perde sua filha para os homens do governo.
Pois estamos separados - todos - desde o início até o fim.
Pois é triste como o pai alcóolatra sendo carregado pelas filhas evangélicas bar afora, tão triste e cheio de fé como todos nos bares.
Pois estamos separados, todos - desde o início até o fim.
Pois é devastador como o crescimento potencial da ganância dos homens, nossos filhos e irmãos, nossos reflexos.
Pois eis-me eu.
Numa ilha. Numa clínica. Numa prisão.
Lendo-me fria no banheiro.
No berçário. No caixão.
(...)


sábado, 13 de dezembro de 2008

fazendo dezembro no campus

acho hoje no pio desse pássaro desconhecido
e dessas árvores milenares
que aprender a escrever um livro
é perceber que é mais proveitoso o caminhar
que o destino final em si.


É tão bom assim
Quanto o improviso de um blues
Com o azul ou o amarelo
Do céu e da flor do agora.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O AMOR COM SEXO

Um transe
Bem transado.
A transa
Sem dissimulado.


no raiar de novembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

TSVETAEVA, Marina

À VIDA

Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.

Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe -
E abre a veia da vida.


Apesar disso, ela trotou

até se suicidar em 1941.

domingo, 2 de novembro de 2008

Para Minha

Meu amor, estou te amando ainda mais hoje
E te quero livre e te quero minha
E te quero como jamais ousei querer alguém
E me lanço a você com a alma acalentada
E me lanço buscando também a sua alma

Encantada, eu com você, numa onda
Que ultrapassa os maias e ruma para o Oriente
Numa viagem eterna.
Conheço-te para aquém da existência
E te beijo do verso ao multiverso.

Meu amor te espero há muito
E te amo sem ter tempo nem espaço.
Energia vibrante, simplemente.
Imaterial no toque dos nossos corpos.
Somos nós cordas que se enlaçam.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DOSTOIÉVSKY, Fiódor

"(...) todos nós, e com bastante freqüência, agimos quase como loucos, apenas com a pequena diferença de que os "doentes" são um pouco mais loucos que nós, porque neste caso é necessário distinguir o limite. Já o indivíduo harmonioso, e isso é verdade, quase não existe; em dezenas, e talvez até em muitas centenas encontremos um, e ainda por cima em espécimes bastante fracas..."

In.: CRIME E CASTIGO

domingo, 26 de outubro de 2008

esperando o baú

A primavera em Brasília quente
Estou esperando ônibus que me leva
A visitar meu pequeno amor singelo
E o ônibus dura uma eternidade
E não é só porque hoje é domingo
E ninguém gosta de trabalhar
É também porque o amor
Odeia esperar

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

RETRATO COM MACONHA E MORRISON

Não consigo dormir. Mais coca-cola. Cigarros. Vícios.
Eis o meu retrato: bagulhos espalhados pelo quarto.
Psicodelia fluindo das caixas de som para meus ouvidos
Converso com Jim Morrison sobre a insanidade
Das crianças que são vozes a gritar lá de fora
E daqui de dentro do prédio a cidade de concreto
Se assoma como uma redoma cunhada em estruturas sociais

Artefatos como o ônibus azul
Que nos chama a viajar dentro das caixas de som
Que cantam as crianças a sentir o gosto de ter voz
E caminhar e invadir o meu quarto com o seu timbre
Infantil. Patinetes. Gritos.
Mas, "pai, eu quero te matar"
E, "mãe, eu quero te foder"

Quebro as estruturas sociais e fujo para os guetos
E nos guetos me entrego ao sexo que é amor desnivelado
E nas quebradas escondo meus crimes e cuspo nos costumes
E na derrota sou vitória pois resisto para além de glória ou honra
E esse é o fim
A fantasia em pedaços e o corpo em decomposição

sábado, 18 de outubro de 2008

carta p/ raposa gata

"(...) o meu amor calado, aquele amor puro e ingênuo que perdi há milênios atrás em algum bordel de beira de estrada, aquele par de olhos verdes que consumiu meus anos pueris de homossexualidade dúbia e romantismo cego. Você se lembra? Meu amor platônico consumiu-me até lavar meu orgulho na merda, e eu cheguei às vias de minha morte em vida, tudo em nome do meu amor de sonhos rodeados em gozo e saciedade, do meu amor, do meu amor, do meu amor. Mas ele mostrou-se infértil e tomou todas as feições doentias da loucura. E eu o sufoquei com algum travesseiro enquanto ele dormia. Mas deitei-me sobre o mesmo travesseiro, sabendo que no sono o meu amor ressuscitaria em sonhos.
E cá eu hoje, incapaz de enxergar o amor como o via, deplorando a amargura da minha realidade que acusa a verdade dos relacionamentos: trocas meramente egoísticas e destinadas à auto-satisfação de desejos solitários.
Mas lá, no sonho, lá eu o tenho, o meu amor, e ele me revela a esperança que brota dos seus olhos verdes e eu pacifico minha alma pois sei que tudo pode acontecer. A física quântica me permite isso.
Mas aqui, quando acordo, sei que para sempre serei só e mulher alguma no mundo tirará de mim a dor de ser humana. Entretanto, uma ou outra podem, ocasionalmente, amenizar minha tragédia."


terça-feira, 16 de setembro de 2008

cadernos de viagem - belo horizonte, são lucas

Noite adentro descobrindo o corpo da mulher que o acaso me trouxe e que se deita comigo agora imensa na cama a interferir nas minhas linhas, ela que se ri vendo Jô Soares e eu que me rio
lembrando da nossa cama há momentos atrás.
Gosto do gozo que vem do dentro do ritmo do conjunto da orquestra dos toques das peles que desejam e que milagrosamente se conectam rendidas sabe-se lá porquê.

relembrando agosto de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

ANTERO DE QUENTAL

Quando a sede nos seca o paladar,
E o sol a pino o peito nos esmaga,
Se enfim se chega à praia, junto à vaga,
Quem hesita entre a areia e entre o Mar?

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Pater - parte V.

ao Divino indizível

Ele, o Deus sem nome...
Aquele inonimável que repousa
Na nossa respiração...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

carta p/ menino homem com soldados de plástico

Eu tenho dores de cabeça e sinto-me intoxicada de pensamentos. Sou mais uma alma no front e vejo relâmpagos num horizonte cinza, num horizonte sem céu. Há sangue em minhas mãos, eu rosno em agradecimento à vida e clamo o nome do Divino. Há sangue em minhas mãos e eu preciso de um cigarro para engolir a mim mesma a seco. Eu soldado, mudada para sempre.
Mais uma alma no front inundado de lágrimas que correm por dentro do peito. Mais um corpo dormente e abraçado com um fuzil na noite densa e cinzenta. Mais saudades de casa na guerra estrangeira de uma soldado sem pátria.
- Bebamos um vinho essa noite, general. Em homenagem aos mortos, por favor bebamos pois ainda, nessa noite sem céu, estamos vivos, coronel. Bebamos pois somos todos soldados e estamos vivos como homem que somos, tenente. (...) Bebamos, cabo. À vida, gente.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

carta p/ L. em papel azul

Querida,

que durmas com anjos nessa noite de alegrias em cadência azul e única pois é assim que o negro da noite é o azul que pacifica-se escurecendo. Desejo que durmas nessa calma imensidão de azul com anjos pois aqui do meu lado respiras e és angelical dentro da inocência do sono.
Nunca estive tão em paz quanto hoje, dentro desse seu meu azul
nosso azul pequeno e sincero.

hoje eu te amo

Por favor, não desperdicemos juras de amor eterno. Tudo o que existe, um dia finda. Demos graças então, pois ao menos existe algo em nós, mesmo que tão amargamente transitório, como tudo que existe é.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

GARCÍA MÁRQUEZ

Fermina Daza está de volta!

"(...)Era outra: a compostura de pessoa adulta, os botins altos, o chapéu de velilho com a pena colorida de algum pássaro oriental, tudo nela era correto e fácil, como se tudo tivesse sido seu desde sua origem. Achou-a mais bela e viçosa do que nunca, mais irrecuperável, como nunca, embora não tenha compreendido a razão até notar a curva do seu ventre devaixo da túnica de seda: estava grávida de seis meses. Entretanto, o que mais o impressionou foi que ela e o marido formavam um par admirável, e ambos manejavam o mundo com tanta fluidez que pareciam flutuar acima dos escolhos da realidade. Florentino Ariza não sentiu ciúme nem raiva, e sim um grande desprezo por si mesmo. Sentiu-se pobre, feio, inferior, e não só indigno dela como de qualquer outra mulher sobre a terra."

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. O Amor nos Tempos do Cólera.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

a menina sonha mulher ou vice-versa

O sonho grandioso que sonhei com ela quando tínhamos 39 anos de idade. Ele foi de uma beleza ímpar, suave visão irremediável que me marcou pelo resto da vida. Como posso apagar o que o futuro demonstra dentro do meu coração sonolento de menina de 20?

Coisa cruel é rasgar com as unhas o céu cinzento dos meus sonhos gloriosos de menina. Não quero antever escuridão onde a calma das nuvens anunciava uma garoa calorosa nos braços da minha só minha morena de olhos verdes. Deixe as nuvens serem nuvens. Não rasgue meu céu, não me invada com escuridão. Eu a vi balançar sob as folhas de uma árvore imensa, de galhos cinzentos como o céu e copa esverdeada como os seus olhos alvoroçados, no balanço da gris alvorada de meus sonhos de menina nua e rendida ante a intangibilidade da verdade do amor. Não me faça rasgar os sonhos que vivi com toda a minha alma, uma vez e somente os sonhos únicos e ingênuos que nunca mais haverão de ser como foram naquela ocasião perdida na memória.


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O discípulo de Emaús

Jesus Cristo não esperou a maturidade para liquidar os sábios e doutores: fê-lo aos 12 anos.



Murilo Mendes

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

o peso dos sentimentos

E no domingo sou contagiada pela letargia da minha vida que se escorre lenta pelos buracos que permeiam os átomos. Um clima de desalento e desencanto preenche a minha casa e eu queria estar longe daqui. Queria poder me juntar aos vazios dos átomos para que também minha amargura fosse feita de imaterial e eu não a sentisse mais.
Os sentimentos carregam o peso da matéria.

domingo, 17 de agosto de 2008

carta p/ d.

Como está você? Imagino-te em cotidianos cariocas com o mar no horizonte e garotas de Ipanema a rodear o seu coração imenso de amor. Imagino-te o menino-homem que conheci há cerca de 8 anos atrás cheio de um brilho cálido no olhar. Imagino-te D.B nas ruas de uma Rio de Janeiro que surpreende a cada dia.

Enquanto isso, cá eu, nessa Brasília seca, onde os gramados geométricos trincam um sorriso amarelo árido e cortante. Cá eu trincando no final da tarde que já carrega um azul denso que anuncia a noite.

E pensar que desfrutei de praticamente um mês pelas ruas de minha Belo Horizonte querida, a percorrer morros e bares, a compartilhar de sorrisos e reencontros, a experimentar o frio acolhedor das minhas Minas Gerais... Pensar nisso é reaver a esperança no dia de amanhã candango que se anuncia nesse meu horizonte de baixa umidade relativa do ar.

(...)
Mas, amigo, que alegre é o reencontro! Nem que ele se dê somente na memória, que alegre é!

sábado, 16 de agosto de 2008

HETEROSSEXUAL

o homem que me habita
é a mulher
que em ti suplica


Lorenzo Ferrari (Movimento Poetrix)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

INUTIL(MENTE)

de que valem
meus versos de amor,
se teu coração é analfabeto?


Angela Bretas (Movimento Poetrix)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

AMOR PLATÔNICO

de que vale um rosto
se não sei do resto
se nem sei do gosto


Judith de Souza (Movimento Poetrix)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

AMAR-A-LOUVAR O VERBO

Como não palavrear, quando a realidade não basta?
Minhas veias pulsam por palavras para preencher o vazio
Da própria veia.
Circulação celeste no coração que canta o ritmo
De istmo a istmo
Do planeta e da alma
Só para louvar o verbo.


amaralouvar
o verbo
cantando
é bom

terça-feira, 12 de agosto de 2008

carta p/ meu mestre filósofo professor sitiado barbudo de lá ...

A Universidade toma meus tempos: adoro viver o campus e seus gramados, árvores, caminhos, bancos. Confesso que já não sou a aluna exemplar que um dia fui, e faço o meu mínimo com ares exaustos. Gosto mais é dos bastidores, a academia não me apraz. Já não penso mais em mestrados, só quero aproveitar o conhecimento que a convivência dentro de um ambiente universitário me proporciona. A vida é imensa, não cabe em livros ou em salas de aula. Quero devorar o mundo, mas sei bem que posso queimar meus lábios nessa audaz tentativa. De qualquer forma, cá eu, sem diploma e com verdades transitórias a tira-colo.

E digo-te: a transitoriedade nos trespassa. E nós com a velha vontade de segurar os momentos... Ah, como dói a saudade de outrora!
Mas, eia, na saudade o outrora cavalga e toma forma. Não resta nada, no final das contas: só o "eu" e suas lembranças sem conta.
Viver é uma lição trabalhosa. Mas a gente vai pegando "as manha", sacumé? A gente acaba por calejar e aprender a dinâmica de si mesmo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

carta p/ g.

Você que se deita sob a sombra de minhas lembranças inventadas. Você serenidade trazendo-me a paz sufocante da nostalgia.
Eu queimo velas vermelhas em forma de coração e tambores tocam eles com cordas de violão ao meu lado. Rouba-me o olhar a Lua, Linda, no alto do céu do Cruzeiro. O Sul. O meu sul em mim, a minha descida ao um bigo abaixo. Fim. Início. Meio. Em cheio sou e tendo a palavrear isso, tendão tentando palavrear isso que sou.

O Sol saiu ontem à tarde dando ares de sorriso à menina desconhecida sentada no ponto de ônibus.
A outra menina na praça deserta acende um cigarro e brinca de amarelinha com a Morte amarelada sob o Sol.

(...)

Acho que no final das contas todos nós nos matamos de tanto viver.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

cadernos de viagem ... mais minas

arraial da lapinha, município de santana do riacho, MG - 9 de julho

Encontramos o Aristide dentro do caroneiro. Ele é filho da Dona Lina e nos ofereceu o pouso por 10 reais a cabeça. Foi muito prestativo e nos deu as indicações para a trilha que vai para o pico do breu (pico da lapinha, ou falso pico do breu). Serão cerca de duas horas de caminhada morro acima. De lá, contaremos um pouco com o acaso. Não conseguimos marcar os pontos no GPS, mas temos indicações de pontos anotados num papel, além do mapa e das indicações de Aristide, e outras informações que colhemos na internet. Eia

(...)

Confundimo-nos, nos perdemos e passamos por caminhos íngremes. Atravessamos um trecho da Serra do Espinhaço por dentro da vegetação seca da montanha e vimos paisagens que talvez jamais veremos de novo. Digo isso porque, mesmo se eu voltar a fazer essa travessia insana não passarei pelos mesmo caminhos que escolhemos dessa vez, nem a pau. (...) Um dia inteiro de caminhada com mochilas pesando cerda de 15 quilos nas costas subindo e descendo morros de pedregulhos imensos sem ter guia e seguindo a direção da intuição com as poucas informações que tínhamos. Saímos por volta das 9 e 45 da manhã e conseguimos avistar a casa de Dona Ana já davam mais de 6 da tarde. Perdidos, íamos acampar numa casa em construção que avistamos de longe, mas por sorte encontramos um pedreiro que finalmente nos deu a localização exata da casa de Dona Ana. Quando, por fim, já escurecendo, ouvimos no meio do nada o barulho de cães ladrando, eu sabia que havíamos chegado. Foi o melhor latido de cães que já escutei em toda a minha vida. (...) Vou apagar a lanterna e cair no sono. Tenho certeza que vou apagar que nem bebê. Dormir profundamenteeeeew.................

(...)
algum ponto entre santana do riacho e conceição do mato dentro, MG -10 de julho

Não. Não dormi que nem bebê e nem profundamente. A barraca, montada já no escuro do início da noite, estava meio que desnivelada. Meu isolante térmico não amenizou os desníveis. Meu corpo dolorido no duro chão de grama da terra que pisei e que piso e que, mesmo seca no árido da montanha e no alto do inverno, faz brotar a vida nos mais remotos pedaços de chão. Embora a noite tenha sido longa e a manhã se mostre cinzenta e fria, o sabor do café de Dona Ana, a companhia dos meus meninos e as lembranças da primeira parte da travessia iluminam meu despertar.

Meu corpo dói e sou feliz.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

cadernos de viagem ...

26 de julho ... Belo Horizonte, São Lucas

E é um entardecer cor-de-rosa no dia do aniversário de minha mãe. Pipas azuis e helicópteros descoloridos cruzando o céu. Quanto mais me permito, mais perco o medo. Os contornos do meu auto-retrato vão ficando mais nítidos à medida em que percorro os pedregulhos das montanhas, que conheço e desbravo os novos amigos, à medida em que sonho com os artesanatos e as pautas musicais, à medida em que desvelo o corpo das mulheres e suas almas que vacilam como a minha. E agora conto uma, duas, três, quatro pipas no entardecer cor-de rosa do aniversário de minha mãe. (...) É Belo Horizonte e seus morros e prédios e lembranças. Há uma pipa vermelha e meu coração imita a cor da paixão despreocupada.

sábado, 19 de julho de 2008

o sonho persegue seu fim

(...) Não digo que a solidão não me é mais mistério: ela ainda por vezes dói, e é sufocante, ultrajante até. Hoje pela manhã senti a solidão do meu corpo. Meu corpo só inundando a solidão da alma. Dói ser jovem e ter o corpo só. Dói mais que solidão de alma, embora as duas coisas se confundam.
(...)
Já em BH, sozinha no quarto de Felipe, choro algumas lágrimas pela solidão do corpo do agora e na lembrança incômoda dos erros do passado. O espelho horroroso e sua verdade que acusa as bizarrices que escancaram: o mundo e os papéis desfilando, heróis heterossexuais com bodas de ouro e vilões descaradamente aviadados dando as bundas nos bares. A que mundo você pertence, imagem no espelho? Que universo é esse onde te deitas nua e assustadoramente atraente? Por que me fizestes assim, imagem no espelho? Que mistério é este que carregas com tanto medo?
(...)
Vi meu corpo se deitando em sonhos e havia um corpo de mulher a mais na cama estreita. Observei-a e era linda demais para que eu me deitasse sem o beijo de boa noite no rosto quente. Vi meu corpo se deitando em sonhos e havia dois corpos de mulher encaixados na cama estreita.
Adormeci sorrindo logo em seguida.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

DON'T PANIC

again and again

Oh, we're sinking like stones,
All that we fought for,
All those places we've gone,
All of us are done for.

We live in a beautiful world,
Yeah we do, yeah we do,
We live in a beautiful world,

Oh, we're sinking like stones,
All that we fought for,
All those places we've gone,
All of us are done for.

We live in a beautiful world,
Yeah we do, yeah we do,
We live in a beautiful world.

Oh, all that I know,
There's nothing here to run from,
And there, everybody here's got somebody to lean on.


e enquanto ninguém compreende comigo
compreendo sozinha
sem ter para onde ou porque fugir.

leaning on myself
and on nobody else

last but not least: a minha insegurança sempre foi por mim.
queimo renato na cruz
e esqueço-me dentro da nossa melancolia em comum

quinta-feira, 17 de julho de 2008

cadernos de viagem

distrito do tabuleiro, conceição do mato dentro, MG
14 de julho de 2008

De todas as descobertas de ontem, duas me ficaram mais marcantes na memória. A primeira, no Poço do Pari, quando eu, deitada nas pedras, me senti conectada a todos os pequenos pedaços de coisas que formam o mundo. Naquele momento eu era toda a existência em um só ponto e pude de maneira extrema sentir a misteriosa presença do Divino. Foi algo mágico e impossível de se descrever propriamente. As folhas das árvores dançavam acompanhadas pelas formas das pedras e pelos movimentos das águas. Naquele momento, eu mesma era as árvores, as pedras e as águas, todas unificadas dentro do meu fogo interior. Chorei pois podia me sentir e me via dentro de todos os lugares. Estava em paz pois sabia da verdade inegável da solidão que me povoa mas podia compartilhar com todas as formas a mesma solidão irrefutável. Todos, tudo estava só, mas tudo se cabia perfeitamente dentro de cada parte mínima. E naquele momento eu me coube em mim e sorri com lágrimas nos olhos.

domingo, 22 de junho de 2008

O PORNÔ GRÁFICO

Tive uma noite desvairada de prazer
Ao lado de uma morena imensa,
Intensa de presença.
Cama pura e sutra e puta sem-vergonha.
Nua a carne no úmido da fronha
Junto ao lençol entrelaçado
À confusão de braços e pernas
Que se tocam em explosão.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

SEDE DE MUDANÇA

"AOS LEITORES DE NOSSO POVO, PRIMITIVO, INESPERADO.
SOMENTE NÓS SOMOS O ROSTO DO NOSSO TEMPO.
A CORNETA DO TEMPO RESSOA NA NOSSA ARTE VERBAL.
O PASSADO É ESTREITO.
A ACADEMIA E PUSKIN SÃO MAIS INCOMPREENSÍVEIS QUE HIERÓGLIFOS.
LANCEMOS PUSKIN, DOSTOIEVSKI, TOLSTOI, ETC., DO NAVIO DO NOSSO TEMPO.
QUEM NÃO SOUBER ESQUECER O PRIMEIRO AMOR NÃO CONHECERÁ O ÚLTIMO."

Manifesto Futurista Russo assinado por
Mayakovsky, Buerliuk, Kruchenik e Klebnikov;
Moscou, 1912.

carta p/ d.

Bem, eu escrevo porque estou viva e o papel é simbólico. Esse papel passageiro e sagrado como o verbo, mera fumaça que se dissipa negra pela escuridão...

Apesar de todos esses meus pesares, essas lágrimas de sangue que vez ou outra me povoam, eu ainda sei sorrir o deleite do momento e a intensidade de um instante. Viver é aprender a se suportar diante do espelho, é engolir o remédio amargo para sorver a cura. Viver é deixar-se ser.

E estar viva como ser que sou é escrever com êxtase e desespero, é deixar a palavra ser selvagem e carregar a verdade dolorosa. Estar viva é desistir de tudo e ater-se ao detalhe. É deixar-se perder.

Estar viva é amar sem causa ou conseqüência.
Para mim, estar viva é buscar a todo momento aprender a ser livre.

repetir para relembrar: aindá há algo

carta p/ vivi

O tempo é também é maravilhoso. O tempo nos preparando ciladas e surpresas pela vida afora. O tempo onisciente... "oh, your city lies in dust...". Adoro viver. Fumar o cigarro e comer a maçã. Pensar nas lágrimas como laços de fitas velhas que jogamos saudosos no lixo. A areia da praia por entre os dedos do pé, ao mesmo tempo incomodando e completando. Adoro viver. Deixe-me cavalgar na borboleta agora, e pronto. É isso.

nov/2007

terça-feira, 20 de maio de 2008

p/ helô

Já é tarde. Gosto de escrever à luz de velas. A chama alimenta meu pensamento e eu sorrio pois a vela está acabando. Que escrever então, agora que resta tão pouco tempo? (...)
Não carreguemos mágoas, pois estas são pesos imprestáveis. Obviedade. E como não carregar mágoas? No auge de nossa agonia, muitos por vezes deixam de carregar o pão para carregar mágoas e no meio do caminho morrem no amargor da fome e da angústia gloriosa. Como não carregar cruzes e espinhos no decorrer das batalhas de sóis e de luas?
Sigamos, pois. Mas evitemos de todo o coração a corrupção intrigante das mágoas, esses fardos que nos distanciam da simplicidade cortante da vida, essa simplicidade que por vezes brota em olhares de pessoas queridas ou sorrisos de desconhecidos. Essa simplicidade que as flores evocam em cores e formas. Essa coisa tristonha e serena que é existir e por fim perecer...
(...)
A vela se dissipando por fim então o pavio enegrecendo seu último suspiro de luz. O fim da palavra no escuro da noite que se despede no sono, no meu sonho sem velas e cheio de formas.

meu blog deu TILT

páro no tempo.
20 de maio.
2008.

quem derrubou a ampulheta do tempo?

odeio
essas coisas
digitais.

carta p/ amarante

num mundo cheio de pessoas famintas por um ouvido sincero e um olhar direto, num mundo deturpado pela escassez do tempo que nada mais é que dinheiro,uma criança observa, do terceiro andar de um prédio, seres minúsculos a se movimentar lá embaixo. A criança e sua curiosidade mórbida.

a criança

embaixo vendo a criança

em cima
em sua curiosidade mórbida
faminta de olhos e ouvidos

a criança crescendo em comprando olhos azuis e ouvidos de plástico em 10x sem juros. a criança sem brinquedos de madeira mas com brincadeiras virtuais de dígitos binários. a criança virtual também desaparecendo.
crescendo faminta de pensar profundo
em sua curiosidade mórbida

kings of convenience, failure

Using the Guardian as a shield
To cover my thighs against the rain
I do not mind about my hair

Your jacket may be waterproof
But I know the moment you get home
You're gonna get your trousers changed

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

I wish I could travel overground
To where all you hear is water sounds
Lush as the wind upon a treeI wish

I could travel overground
To where all you hear is water sounds
To capture and keep inside of me

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

quinta-feira, 15 de maio de 2008

carta p/ g.

aos poucos sinto-me a envelhecer. os anos se agregando entre os cegos impulsos elétricos do meu cérebro, as lembranças esculpindo lições. fotografias que denunciam e saudam rugas, sorrisos esquecidos por entre os segundos. é lindo e desesperador perceber a areia da ampulheta escoando-se toda pelo frágil vidro da existência.

terça-feira, 13 de maio de 2008

carta p/ amarante

(...)
Pois eu tenho 24 anos e sonho com todos os anos que hão de vir através dos dias. Hoje, meu dia jogado displicentemente num canto da sala, o som mastigando músicas em línguas estrangeiras e o café com cigarros. Amargo gosto do nada, a faxina do banheiro, o jogar-se na cama. Meus prazeres vãos na beira de um rio com sensuais seixos em espumas leves como o toque de bocas que se beijam pela primeira vez. As pedras macias jogadas na face que ri e que sangra. O sono dentro do sonho que constrói os seixos e os sexos afins e as idéias perenes. Durmo e meu dia jogado ainda displiscentemente em algum canto da sala.
(...)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O GROSSO RANÇO DO MEU DESEJO

p/ Alex Anteu



tristezas. desilusão intermitente. cegueira. melancolia.

gozo no grotesco. olhar-se no espelho e espantar-se consigo mesmo.

minha natureza real, ao avesso.

minhas inúmeras paixões quase indigestas
atravessando os bares sem endereço.

as mulheres, adereços únicos,
peças para se apreciar com olhos, bocas, dedos.

por favor, me ensine a amá-las

porque de usá-las eu já conheço.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

ora, bulhufas

carta p/ j. (revisitada)

o eu-lírico tem um tu-lírico e o tu lírico é necessariamente infinitamente mais belo e ainda mais Perfeito que o tu real.
O eu-lírico adora ser eu-lírico pois assim sendo é onipotente e disfarça todas as fraquezas do eu real.

(...)

Quero-te querida
Querida, te quero
Quero, quero
Quero-quero.

Passarinhos.

(...)
Mesmo que fostes embora eu permaneceria a cantar os teus ombros em movimento, a tua alma a florescer lentamente dentro de mim, a tua presença consumindo o meu fogo e abrasando o meu frio. Mesmo que fostes somente a sombra de uma lembrança, ainda escreveria sobre a cor serena de teus olhos e a lucidez do meu amor desvairado por ti.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Sem Título ou Brazilha

Eu e a ilha que me faz o derredor
A dor da solidão da ilha em mim
O mar remetendo-me às mesmas lembranças, terremotos,
Aos mesmos ruídos das ondas
Que vão e que vem
E que hão
E que não
E que vem e que vão.


29-04-08 e velas vermelhas

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A ESFINGE

Decidi então descrever toda a dor o meu amor descarnado, os ossos que se separam do músculo que sangra, a incisão profunda no significante coração cor-de rosa. Não me queres e por não me quereres eu peço sufocada: não existas então, não sejas carne e nem psiquê, não sejas olhar doce e nem boca cega. Se assim não fores, minha eterna, permite-me esfaquear-te o peito com metáforas, rasgar-te do chackra cardíaco até a boceta encardida de sangue, permite-me ser ódio também nesse único de amar sem freios e sem rodeios e com raios a clamar por tempestade, amar com o sentimento singular de existir no sexo que cospe a essência de se estar vivo. Permite-me e vai embora. Que eu tenha a coragem de ir-me sem deixar de rasgar-me também de alto a baixo, com ou sem súplicas.
Onde estive?
Julga-me louca e te julgarei esfinge
que não tem idéia do próprio mistério.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

MEIRELES, Cecília

Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Por não esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...

Cântico, VII

quinta-feira, 10 de abril de 2008

DRUMMOND de andrade, carlos

LIBERDADE

Sonho de fim-de-semana
Sem analista
Voar baixar planar
por conta própria
águias interpretadas a teu bel-prazer
intérpretes elas mesmas
tudo se mira na lagoa
do mundo explicado por si

domingo, 6 de abril de 2008

O Azul do Destino

Voa pelas mãos
As escolhas pelos dedos

Afinal, o destino
é um cão.

Um ladrão, avião
Pelo céu.

Não há placas nem estradas
Lá no céu.

Só há nuvens e azul
lá no céu.


Ainda faço músicas.

sábado, 5 de abril de 2008

FAZES COMO AQUELAS

Fases como aquelas, como agulha quente na órbita do olho. Um tropeço hoje, um acidente feio amanhã. Sonhos que se rasgam como notas de cem, sonhos tristemente azuis como notas de cem que se rasgam. Sensações como facas que trespassam os pulmões e as costelas, mãos que manipulam facas contra corações pueris.
O cuspe vermelho e enferrujado. A pupila dilatada e espantada. Os inimigos do dia-a-dia, os mesmo inimigos que nos dão as mãos e que nos conduzem à armadilha prometida como redenção, as mesmas mãos que escondem a traição dos olhos que, um fadado dia, se cruzaram.
O tapa quente no rosto. O orgulho em pedaços e acenando de longe a dignidade agonizante do eu.
Enfim. Todo mundo sabe ser cruel.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

a fissura e a tensão

Eu sou movida por desejo,
pulsão de vida e de morte.
A fantasia, o meu norte.
O conflito,
o meu suporte.

Eu sou a fissura
e a tensão
E as idéias vagas que nascem ao sabor
de ventos desconhecidos.

Eu sou a ânsia de ser
A mão que se dá à outra.
O contato e o mistério jazente.
A paz que já se fez pouca
E clama por transformação.

Eu sou plena de morte e de vida.
Eu,
a fissura e a tensão.

quarta-feira, 26 de março de 2008

INFÂNCIA INTERIOR

A criança e a bola
Fora da escola
Na rua das memórias
Dentro do brinquedo
Dentro do Adulto
A criança evoca
Vontade de não crescer

O doce e a boca
O colorido
Os gritos
O carro que voa
De encontro
Ao avião de plástico
Fantasia circundante

O adulto e a lembrança
A escola da vida
No tráfego das ruas
Dentro do baú o brinquedo
Dentro da Criança
O adulto evoca
Vontade de retroceder

E eu recordação
Rendição serena
Ao peso dos anos
Sou.



Teresa Minimalista Trotando Mundus

domingo, 23 de março de 2008

not again

...


o amor é um jogo de dados
dados os amantes
hei-los à sorte lançados

(em algum lugar de 2007)

terça-feira, 18 de março de 2008

poeminha p/ mama

te amo
desde o nunca
e para sempre

domingo, 16 de março de 2008

para Ela

Quando estou contigo meu coração se acalma e eu quase me esqueço de como o mundo é cruel por não nos deixar ser amor pelas 24 horas dos dias todos. Gosto de estar contigo pois sinto com tua presença o paulatino desvendar do meu mistério, pois gosto de te ver sorrindo, gosto dos teus gestos leves e tuas expressões duras, gosto de observar-te a existir. É bom estar contigo e olhar-te em profundo e dentro dos teus olhos ver a fortaleza do teu ser, a tua solidão sem freios, a mesma solidão que vibra em mim e em todos nós que somos e falamos e sentimos e amamos. Quero te dar o céu em mínimas gotículas de êxtase puro, te dar toda a minha vida embrulhada em um envelope sem perfume. Quero ser contigo sabendo da ruína de tudo, estar contigo sem ignorar a infalível natureza do tempo que tudo cria e tudo consome. Quero ter-te na agonia de uma vida inteira. Quero, quero, quero, e só quero você em tudo que quero. Sei disso e não quero mais saber de nada.
(...)
Você conseguiu me tomar por inteiro.
Um dia eu quis aprender a viver. Acho que consegui ou estou conseguindo, e isso acontece por causa da sua presença.
Só sei viver com você.
(...)
Minha vida devia acabar agora.
Pois desse modo eu saberia que morrer é aprender a amar.
(...)
Teresa continua trotando mundus

segunda-feira, 10 de março de 2008

POEMA PARA ALÉM DOS OLHOS MEL

Tens a beleza clássica
das luas em marfim.
A placidez das estátuas
que, gregas, dançam pra mim.

És meu amor sem sexo
que me açoita seco pungentemente.
Pétala de dons sinceros
que cai severa sobre o chão, fremente,
a desvelar a solidão de eras
que, jazente em minhas trevas
produz a semente eterna
nas próprias pétalas das moléculas.

Teresa Trotando Mundus

sábado, 8 de março de 2008

A VOZ

Uma canção cantava-se a si mesma,
na rua sem foliões. Vinha no rádio
seu carnaval abstrato, flor de vento,
Era provocação e nostalgia.

Tudo que já brincou, brincava, trêmulo,
no vazio da tarde. E outros brinquedos,
futuros, se brincavam, lecionando
Uma lição de festa sem motivo,

à terra imotivada. E o longo esforço,
pesquisa de sinal, busca entre sombras,
marinhagem na rota do divino,

cede lugar ao que, na voz errante
procura introduzir em nossa vida
certa canção cantada por si mesma.



Carlos Drummond de Andrade

sábado, 1 de março de 2008

carta p/ mininu

"Hoje veio uma senhora de 70 anos anos na loja onde trabalho. Conversadeira e solitária. Disse-me que quase se casou 3 vezes mas que o destino determinou que ficasse só. Contou-me histórias de noivos que morreram em desastres de avião ou que traíram e foram dispensados então. Contou-me que amou um motorista de ônibus e que seu vizinho dentista estava lhe sendo inconveniente e tentando conquistá-la. Disse que não queria mais ninguém mas que embora fosse velha também gostava do "negócio" e que sua vizinha lésbica fazia muito barulho com a namorada pelas noites afora incomodando o seu sono de senhora de 70 anos. Perguntou-me se eu era casada e eu disse que não, no que então me retornou dizendo que eu não ficasse só, pois viver sozinha era muito triste. Insistiu em dizer que o destino era inquebrantável e que o que tivesse de ser, seria. Solidarizei-me com ela.
Penso na solidão. 'Viver sozinha é muito triste'. Mas morrer deixando alguém talvez seja ainda muito mais."

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

baseado em diálogos reais

No meio homossexual só o fato de você "ser" homossexual já é atrativo.

Justamente pois os "homossexuais" são minoria.


(...) 'Por isso que rola promiscuidade'


"E o fato de "ser" é um dos fatores que levam à promiscuidade no meio. `Uma vez ou outra voce fica com uma pessoa nada a ver pelo simples fato de atração 'urgente' "

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

relembrando os ensaios na casa do guitarrista

sempre a mesma coisa

"na verdade continuo sob a mesma condição:
distraindo a verdade e enganando o coração..."
PATO FU
saudades

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

NOSSA SENHORA DAS ESTRADAS

Quero conhecer Petrolina. Quero ver o asfalto de Petrolina
E ouvir o falado do povo de Petrolina
E eu não tenho nem idéia de qual direção tomar
Para chegar em Petrolina, amém.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

essa eu não terminei

hoje o dia vai se construir pra mim
e se a chuva cai não vou me amedrontar
pois no lugar de que vim não existia luz
reinava a escuridão em unidade negra

luz que se fez então
luz
dor da respiração

se quer saber o que me sussurrou
o céu no dia em que eu nasci,
me disse para procurar quem sou
o céu no dia em que eu nasci.


músicas escassas

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

a dor do desprezo

desembocando em ódio. é a dialética.
amor. desprezo. ódio.
tese. antítese. síntese.

"Se eu pudesse fazer o mesmo com Marina, afogá-la devagar, trazendo-a para a superfície quando ela estivesse perdendo o fôlego, prolongar o suplício um dia inteiro..."


Graciliano Ramos, Angústia.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

to my beloved marijuana

"Love you so much, it made me sick, ah-ha
Come on over and, do the twist, ah-ha
Beat me outta me, beat it, beat it ..."


NIRVANA - aneurysm

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

p x pensamento

- esse pé-de-manga parece... triste...
- é você é que tá. e tem mais: a mangueira é ainda mais bonita do que você supunha, então relaxa e goza.

sábado, 26 de janeiro de 2008

poema para a

como fantasia desvelada
eis o realismo de antero de quental

SONHO

Sonhei - nem sempre o sonho é cousa vã -
Que um vento me levava arrebatado,
Através d'esse espaço constelado
Onde uma aurora eterna ri louçã...

As estrelas, que guardam a manhã,
Ao verem-me passar triste e calado,
Olhavam-me e diziam com cuidado:
Onde está, pobre amigo, a nossa irmã?

Mas eu baixava os olhos, receoso
Que traíssem as grandes mágoas, minhas,
E passava furtivo e silencioso,

Nem ousava contar-lhes, às estrelas,
Contar às tuas puras irmãzinhas
Quanto és falsa, meu bem, e indigna d'elas!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

que os anjos sonhem

Em meio a esses dias atônitos
Enluarados em dor
Recorto teu corpo em fotografias
Tua a barba espetando o nosso encontro suave
Tuas pernas que acenam em caminhos
Aos nossos sonhos, os nossos filhos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

satisfeitos?

vivendo e ressignificando vivências
continuemos

memoria de mis putas tristes por R$ 26,00 na siciliano
manu chao e b negão por R$ 20,00 no arena
vaca atolada por R$ 2,00 no venâncio 2000
beijo na boca por beijo na boca lá em casa

a vida é uma imensa mesa de jantar com iguarias raras e pratos comuns
cuidado com a constipação

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O NASCIMENTO

CARTA P/ IVAN

Meus olhos se abrem e estão vivos. Corro o recinto com o olhar. O mundo é grande e cheio de coisas novas. Aventuro-me.
Existir é perceber as vestes brancas. É sentir frio. É degustar o leite e engolir o calor. Estou viva e sei. De que mais preciso? Respiro o ar.
Encontro a dor e finalmente reencontro o amor. A gradeço aos céus que não têm nome. Posso falar e deixar escrito. Descubro ainda que posso gritar com os olhos e grito: FELICIDADE e saber sentir a infinitude dentro da finitude.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

carta p/ Reich

...... (...)
Ah, o corpo dela não me sai da mente, ela sobre mim e nossos ritmos solidários, nosso uso solidário de mãos, bocas e peles sobre a cama....(...)


(...)


Ainda não consegui desvendar os mistérios delas. Ainda bem que não. Exploro o meu desejo e sofro sozinha com ele. Sofro e gozo sozinha com ele. Já não posso mais evitá-lo. Meu corpo grita de alegria quando meu afã literalmente se esbarra com outro afã parecido. Choque deliqüescente de vontades, encontro violento de sexos e palavras. Como fugir de algo tão imenso? Por que fugir?

Amigo meu, quero acreditar que um dia hei de aprender a entendê-las e a saber lidar com elas. Mas ainda é muito difícil. Eu me sufoco quando estou com o objeto do meu desejo. A humanidade delas avantaja-se diante de mim e me cerca, eu emudeço e não encontro palavras. Apenas as enxergo e as devoro com os olhos, tentando encontrar seus corações.
Nunca os encontrei. Eis minha maior falta. Eis meu maior mistério. Quem são elas? Quem sou eu? O que é o amor?"