domingo, 25 de janeiro de 2009

MAIAKOVSKI, Vladimir

Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

carta p/ g. em papel rosa e caneta azul

Andei por caminhos tortos, irresponsáveis, mandei tudo às favas, amei uma loucura e me vesti de preto na noite escura onde o gato negro da desventura cruzava uma encruzilhada encantada.
Agi como se dirigisse bêbada: levada pelo reflexo inconsciente, quase morta, rendida, eu que nem sei dirigir.
Foram momentos intempestivos mas cheios de lições. O peito me doeu e a desesperança galopou frenética pelo meu coração acelerado.
No final do dia eu estava só e derrotada.
Só então aprendi a amar.


13/01/2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

PICHAÇÃO

"FORA GOVERNANTES EMPREITEIROS
ESTUDANTES CONTRA O GENOCÍDIO
SANTUÁRIO NÃO SE MOVE"

Eu vi escrito em spray
Nos muros da Biblioteca Central da UnB
E resolvi ressoar o grito dentro

de minhas linhas anônimas
e subversivas
sub versos
e ingênuas
e senis...

Governantes, uni-vos ao povo
Em busca de boa educação
Governantes, fechai-vos as bocas.
É feio comer com elas abertas.

12-12-08

domingo, 11 de janeiro de 2009

poema

o poeta sentou e chorou e pôs-se de joelhos diante da musa assassinada

Pois quando o sol se apagar e tudo ser catástrofe:
Olheiras. Corpos.
A cidade dos sonhos sendo tragada pela
Monstruosa boca assassina do mar
E a terra esmagando o aço por vingança.
Caos. Injustiça. Fome.
O céu tomando a cor lúgubre das cinzas
Chorando o ódio que inunda as outras cidades
E virão as pestes e o desespero
E as palavras serão vãs

E então começarás a orar.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

CARTA AO AMIGO

AO SOM DE "AS ONDAS", VIRGINIA WOOLF

Estamos envelhecendo e nosso tempo está se esgotando aos poucos, e é maravilhoso poder participar desse processo juntamente com você que me lê. As nossas vidas, histórias únicas, cheias de labirintos e lições, enroscando-se como novelos de lã que se desenrolam todos juntos dentro de um grande cesto e que vez ou outra formam um nó. Acho que foi isso: nós demos um nó, criamos laços, e passamos sim, vamos embora, mas lá está o laço criado, o nó que se encerra. Enquanto isso, o meu e o seu novelo continuam a se desenrolar em meio a tantos outros de cores e texturas e tamanhos variados, e a vida segue, e criamos ou não novos laços nesse emaranhado de fios que se cruzam. É fantástico, é extasiante, é vivo, provoca emoção.
Eis-nos aqui, amigo, os corações pulsantes e as almas abertas a todos os tipos de vibrações. Um lapso apenas, um suspiro, e logo ali termina nossa estrada. Bendito o amor, bendita a ilusão. Bendita a tristeza, que tempera tudo isso. Cada vez mais tenho mais certeza de que somos divinos e de que é sublime cada fluxo de respiração. Obrigada pela sua alteridade, amigo, pois é também com ela que me percebo e nela lanço - também - toda a minha alegria de viver.
novembro/2008