quinta-feira, 15 de maio de 2014

aceno o verso

Nunca compreendi por que escrever.
Decerto também nunca consegui explicar escrever
Pois se o tivesse teria parado vislumbrando o silêncio eterno.
Mas eis que ressurge o verbo, ele é silábico.
Sonoro que bate desperto ponteiros de segundos trágicos
A vida, um sopro, um clanger de sinos,
Uns moleques indo, outros defenestrando-se
Bólidos no mundão, bandos deles, meninos
Almas que vão caindo pelas noites babilônicas
São Sérgios, Romérios, Patrícios e Verônicas
Bebendo o gim, a água tônica, a catuaba de cada dia
Roubando a cena em cada espelho
De cada lar, de cada beco
Que nos coloca esse roteiro
Essa estória de destruição
Essa aventura rumo ao fim
Esse lamento sem salvação:
Humano desatino
Que ressoou do meu coração.
Poesia da juventude desastrada
Nessa estrada envelhecendo
Nesse verso se escorrendo
Assim tão puro,
Quase ingênuo.
Meu verso...
Um aceno.



10-03-14
OTTO, Leandro.
In.: Dias de Transição.

terça-feira, 4 de junho de 2013

OS OLHOS DO MUNDO

os olhos do mundo são meus
e eles estão cansados
mas ainda assim querem sorrir
há um amanhã em minhas varandas
mesmo meu lar não tendo janelas
há um ritmo alegre em minhas sonatas
mesmo os acordes sendo menores
olhos fechados no escuro do tesouro do domínio de si mesmo
somos todos sós
a dar nós




OTTO, Leandro
In.: Os Cadernos do Facebook

quinta-feira, 14 de março de 2013

tami


que amor
que rasga o peito
como vento
no deserto
turbilhão
no maremoto
sonho que não tem misterios
tempo que não tem razão
óia
é o fim, então.

in.: os cadernos do facebook
03/2013

terça-feira, 5 de março de 2013

tatuagem

Há rancor entre as frestas das coisas
Que nascem já predestinadas
A serem tortas e feias, cheias daquele caos ruim

Esse rancor une
Mas também destroi
E é terrível quando destroi:
São dois estranhos que se encontram ao acaso
E já se odeiam de imediato
Só de se olharem.

O Karma precisa de cura?
Que fim seria, que loucura?
O céu, o nirvana, a luz, a bruma.

...

Amigo, me desculpa, meu,
Esse santo daqui já não bate com o seu.

02-03-13
in.: os cadernos p/mim mesmO

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A VIAGEM DOS SONHOS

Os sonhos são percepções desavisadas
As velas de nossos barcos interiores
Sendo sopradas por ventos misteriosos
Provindos das profundezas de nós mesmos.
Levam-nos a lugares remotos
Onde aportamos duvidosos
com nossos medos a tiracolo.
Os sonhos, nossos.
Velas que nos levam por mares traiçoeiros
Águas revoltas que preenchem a escuridão do sono.
Dormimos e mergulhamos
Inconscientemente donos
De nossos mais íntimos segredos.

in.: os cadernos de viagem
09-12-12

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

DIFERENTE

Diferente do que espero, sempre
Diferente.
Nada do modo como sonhamos
Distinção tenaz entre
Isso e aquilo.
Nada do modo como imagino.
Sempre inadvertido.
A vida, caudaloso rio
Cujas ondas escondem pedras
E cujas pedras me deixam marcas
As quais urgem lições, assim,
Transitivamente, eu, diferente,
Nasci novamente,
Diferente do que espero, sempre,
Diferente.

in.: os cadernos da chapada, 14/11/12

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O ESPELHO NOSSO DE CADA DIA


Esses espelhos nossos são ilusões.
Sejamos para além das telas.
Tenhamos os culhões
para acender as velas,
desligar as luzes
e tirar as máscaras.
Puxa-se a tomada
e a estrada se abre no escuro de nossos porões.


O vento vem soprar as velas,
Esses espelhos são ilusões.
Esses corpos, instrumentos cálidos.
Eia: foi-se um momento.
Sinta.
Respire.
Procure a luz.

Desafie o espelho.