terça-feira, 20 de maio de 2008

p/ helô

Já é tarde. Gosto de escrever à luz de velas. A chama alimenta meu pensamento e eu sorrio pois a vela está acabando. Que escrever então, agora que resta tão pouco tempo? (...)
Não carreguemos mágoas, pois estas são pesos imprestáveis. Obviedade. E como não carregar mágoas? No auge de nossa agonia, muitos por vezes deixam de carregar o pão para carregar mágoas e no meio do caminho morrem no amargor da fome e da angústia gloriosa. Como não carregar cruzes e espinhos no decorrer das batalhas de sóis e de luas?
Sigamos, pois. Mas evitemos de todo o coração a corrupção intrigante das mágoas, esses fardos que nos distanciam da simplicidade cortante da vida, essa simplicidade que por vezes brota em olhares de pessoas queridas ou sorrisos de desconhecidos. Essa simplicidade que as flores evocam em cores e formas. Essa coisa tristonha e serena que é existir e por fim perecer...
(...)
A vela se dissipando por fim então o pavio enegrecendo seu último suspiro de luz. O fim da palavra no escuro da noite que se despede no sono, no meu sonho sem velas e cheio de formas.

meu blog deu TILT

páro no tempo.
20 de maio.
2008.

quem derrubou a ampulheta do tempo?

odeio
essas coisas
digitais.

carta p/ amarante

num mundo cheio de pessoas famintas por um ouvido sincero e um olhar direto, num mundo deturpado pela escassez do tempo que nada mais é que dinheiro,uma criança observa, do terceiro andar de um prédio, seres minúsculos a se movimentar lá embaixo. A criança e sua curiosidade mórbida.

a criança

embaixo vendo a criança

em cima
em sua curiosidade mórbida
faminta de olhos e ouvidos

a criança crescendo em comprando olhos azuis e ouvidos de plástico em 10x sem juros. a criança sem brinquedos de madeira mas com brincadeiras virtuais de dígitos binários. a criança virtual também desaparecendo.
crescendo faminta de pensar profundo
em sua curiosidade mórbida

kings of convenience, failure

Using the Guardian as a shield
To cover my thighs against the rain
I do not mind about my hair

Your jacket may be waterproof
But I know the moment you get home
You're gonna get your trousers changed

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

I wish I could travel overground
To where all you hear is water sounds
Lush as the wind upon a treeI wish

I could travel overground
To where all you hear is water sounds
To capture and keep inside of me

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

quinta-feira, 15 de maio de 2008

carta p/ g.

aos poucos sinto-me a envelhecer. os anos se agregando entre os cegos impulsos elétricos do meu cérebro, as lembranças esculpindo lições. fotografias que denunciam e saudam rugas, sorrisos esquecidos por entre os segundos. é lindo e desesperador perceber a areia da ampulheta escoando-se toda pelo frágil vidro da existência.

terça-feira, 13 de maio de 2008

carta p/ amarante

(...)
Pois eu tenho 24 anos e sonho com todos os anos que hão de vir através dos dias. Hoje, meu dia jogado displicentemente num canto da sala, o som mastigando músicas em línguas estrangeiras e o café com cigarros. Amargo gosto do nada, a faxina do banheiro, o jogar-se na cama. Meus prazeres vãos na beira de um rio com sensuais seixos em espumas leves como o toque de bocas que se beijam pela primeira vez. As pedras macias jogadas na face que ri e que sangra. O sono dentro do sonho que constrói os seixos e os sexos afins e as idéias perenes. Durmo e meu dia jogado ainda displiscentemente em algum canto da sala.
(...)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O GROSSO RANÇO DO MEU DESEJO

p/ Alex Anteu



tristezas. desilusão intermitente. cegueira. melancolia.

gozo no grotesco. olhar-se no espelho e espantar-se consigo mesmo.

minha natureza real, ao avesso.

minhas inúmeras paixões quase indigestas
atravessando os bares sem endereço.

as mulheres, adereços únicos,
peças para se apreciar com olhos, bocas, dedos.

por favor, me ensine a amá-las

porque de usá-las eu já conheço.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

ora, bulhufas

carta p/ j. (revisitada)

o eu-lírico tem um tu-lírico e o tu lírico é necessariamente infinitamente mais belo e ainda mais Perfeito que o tu real.
O eu-lírico adora ser eu-lírico pois assim sendo é onipotente e disfarça todas as fraquezas do eu real.

(...)

Quero-te querida
Querida, te quero
Quero, quero
Quero-quero.

Passarinhos.

(...)
Mesmo que fostes embora eu permaneceria a cantar os teus ombros em movimento, a tua alma a florescer lentamente dentro de mim, a tua presença consumindo o meu fogo e abrasando o meu frio. Mesmo que fostes somente a sombra de uma lembrança, ainda escreveria sobre a cor serena de teus olhos e a lucidez do meu amor desvairado por ti.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Sem Título ou Brazilha

Eu e a ilha que me faz o derredor
A dor da solidão da ilha em mim
O mar remetendo-me às mesmas lembranças, terremotos,
Aos mesmos ruídos das ondas
Que vão e que vem
E que hão
E que não
E que vem e que vão.


29-04-08 e velas vermelhas

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A ESFINGE

Decidi então descrever toda a dor o meu amor descarnado, os ossos que se separam do músculo que sangra, a incisão profunda no significante coração cor-de rosa. Não me queres e por não me quereres eu peço sufocada: não existas então, não sejas carne e nem psiquê, não sejas olhar doce e nem boca cega. Se assim não fores, minha eterna, permite-me esfaquear-te o peito com metáforas, rasgar-te do chackra cardíaco até a boceta encardida de sangue, permite-me ser ódio também nesse único de amar sem freios e sem rodeios e com raios a clamar por tempestade, amar com o sentimento singular de existir no sexo que cospe a essência de se estar vivo. Permite-me e vai embora. Que eu tenha a coragem de ir-me sem deixar de rasgar-me também de alto a baixo, com ou sem súplicas.
Onde estive?
Julga-me louca e te julgarei esfinge
que não tem idéia do próprio mistério.