sexta-feira, 31 de julho de 2009

SEM TÍTULO

A noite desceu indistinta.
Sem perceber sorvi de sua escuridão devagar.
De repente eu era a Lua que desaparecia
De um lado do mundo para reaparecer em outro.
Mudei de face.
Enchi-me da cor dos astros
E adormeci noturna.

In.: Os Cadernos da Chapada

quinta-feira, 30 de julho de 2009

OS SETE CAPITAIS

Imagine: o ensino superior. Que indústria, hãn? Como as instituições de saúde ou as igrejas: todos vendidos a um preço de mercado, ações fantasmas, estagnação humana.
Há uma verdade monetária em nosso cotidiano. A luta pela sobrevivência pressupõe o lucro. Tempo é dinheiro. E dinheiro é negócio que é propaganda, a alma. PU – BLI – CI – DA – DE ! ! !
Vendamo-nos pois queremos sucesso. Sim! Carro modelo seu e casa arquitetada especialmente ao sabor do seu gosto. Sim! Pessoa bem sucedida não espera ônibus. Sim! Eu quero ser califa no lugar do califa!
Compremos os títulos! Ações! Mentiras!
Bem vindo ao paraíso dos 7 pecados: os capitais. A SOBERBA desfila essa noite, venha participar dessa espetacular experiência de sondar o insondável e querer o impossível que se faz palpável.
Compre pecados a prestação. Via internet você os recebe.
Oh, GULA! Delícia de visão nos braços da LUXÚRIA, mulheres minhas de aluguel. Beijam-se em lençóis vermelhos enquanto ORGULHO as observa com os olhos lacrimejantes a olhar a tela da câmera digital. Sim, elas se beijam e se entrelaçam nuas, únicas na noite cheia de soberba.
“-Beba!” – sussurra-me no ouvido, a AVAREZA. Como se lhe assaltasse um surto de generosidade, ela quer me conquistar, estou lisonjeada. Bebo: o vinho é profundamente vermelho, meus lábios se pintam de doce e eu me deito com ela. É a cama que abriga um terremoto. E eu que me mergulho nela. Fim. Alvo reto! Gosto meu cheio de primícias peculiares. Ela que me suspira! Ira! IRA!
E por fim, a PREGUIÇA, deitada nos meus sonhos a dormir profundamente.
iN.: cArtAs P/ HelÔ (RevIsItAdAS)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ovoNovo

Escrevo-te pois soa em mim o timbre do estranhamento:
Tudo é Nada e é Novo, de Novo, Ovo.
Coração descompassado: quem é ela?
É a árvore? A espera?
É Letícia? Daniela?
Não, é ela. Que zumbe voando rasante para além de meu ouvido:
Ela sem nome, sem umbigo.
Um raio de sol ou gota de orvalho,
Um novo andar por um novo assoalho.
De madeiras milenares
De estórias incontáveis.
Ela invisível que ruge no verso,
No avesso do inverso,
Do poeta que vive.


In.: cartas para felipe