segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

RIMBAUD, Arthur

(...)
Seu corpo! A libertação sonhada, a arrebatação da graça cruzada de violência nova! seu olhar, seu olhar! todas as ajoelhações antigas e as penas resgatadas após sua passagem.
Seu dia! a abolição de todos os sofrimentos sonoros e que se movem na música mais intensa.
Seu passo! as migrações mais enormes que as antigas invasões.
Ó ele e nós! o orgulho mais benévolo que as caridades perdidas.
Ó mundo! e o canto claro das novas desgraças!
Ele nos conheceu a todos e a todos amou. Saibamos, nesta noite de inverno, de cabo em cabo, do pólo tumultuoso ao castelo, da turba à praia, de olhar em olhar, forças e sentimentos cansados, chamá-lo à fala e vê-lo, e mandá-lo embora, e, sob as marés e no alto dos desertos de neve, seguir suas vistas, suas respirações, seu corpo, sua luz.


In.: GÊNIO. (Iluminações ou Uma temporada no Inferno??? Não me lembro o livro)
(jovem gênio, jean-nicolas... arthur...rimbaud)
a tradução é de Lêdo Ivo
e o tema se dá ao redor do amor

sábado, 14 de fevereiro de 2009

CARTA PARA O MENINO MEU

É. É intenso demais. Uma loucura. Apoteose de sensações. Ápice metafísico. Como uma vertigem. Um orgasmo. É como chorar de alegria.

Isso também é a vida.

(...)

Logo ali à frente garotos andam de skate num cenário grafitado. O sol estatela nas testas. O barulho das rodinhas no cimento ressoa cativo dos motores dos carros. Respingando, o canto das cigarras completa os sons da cena. Os jovens skatistas se sentam embaixo de uma árvore, e eu me preparo para partir.

Fui-me indo vou.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

RILKE, Rainer Maria

"O tempo, neste caso, não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não são nada. Ser artista é não contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva, que resiste, confiante, aos grandes ventos da Primavera, sem temer que o Verão possa não vir. O Verão vem. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão calmos como se tivessem na frente a eternidade. Aprendo-o todos os dias à custa de sofrimentos que bendigo: a paciência é tudo."

In.:Cartas a um Poeta.
Tradução de Fernanda de Castro

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ein Brief für den Baum

(...)

Eu escrevo o meu tempo onde os papéis vão acabando e os dígitos binários vão se multiplicando em progressão geométrica ou algo assim. Vivo o tempo em que as personalidades são fluidas como a tela de um computador e onde os sonhos dão lugar à realidade virtual que se expande tocando a vida real e maculando a verdade filosófica em um século de incertezas e distopias. Os espaços de discussão reduzidos a um quadro hipnótico de luzes alienantes. Digitalizo-me e sou ciborgue a moldar a carne do imaterial formado de Kbs e Mbs. Eu escrevo no papel o sonho que se dissipa num horizonte cibernético.

Eu sou o medo que vive a morte da eternidade da carne.

(...)

Tenho sede de expressão estética. Escrever é como sentir um sabor específico, querido, gozoso. Ou um cheiro peculiar que traz revivências à tona. A frase traz um som que vibra como música e que me faz querer dançar. A semântica pode ser afago ou espinho, mas de qualquer maneira será catarse ou consciência.

Tenho sede e troto livre pelo meu universo literário. Literal. Sede.


Vou tomar água agora

JANEIRO DE ALFORRIA NO ANO ÍMPAR CELESTIAL

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

NA CIDADE ONDE NASCI

Distância no horizonte opaco entre 4 paredes no sobradinho de um amigo anjo que conheci entre as esquinas do céu. Outro Rafael. Bebamos pois é sexta-feira e eu ainda consigo enxergar as asas brancas do meu amigo anjo de carne e osso.
(...)
Não tenho nada além do leito de colchão inflável e alguns trocados no banco e o cigarro entre os dedos e a intenção de novo na mente. Amo os momentos de museus em pinturas de mulheres nuas e gemidos ao pé do ouvido e rangidos de dentes e de colchões pela noite invadindo a madrugada de barulhos esparsos sob a lua crescente de janeiro adentro.

09-01-09, patos de minas