sábado, 29 de janeiro de 2011

em última análise, ...

Eu falava do fim. Era numa manhã bem cedo, eu saía do consultório. Eu me desapaixonei por todos. Apaixonada eterna que era, me desapaixonei para assim permanecer. Era ela ou Ela era? Sondei o coração e ele não bombeava lágrimas. Eu estava cheia, ou quase isso. Como garrafa cheia de areia mas onde ainda cabe água. Eu não tinha medo, degustava minha apreensão. Estava livre, mas sabia que para isso era necessário que eu entendesse minhas próprias pernas, e os limites delas. Qualquer passo desmedido causaria uma queda.

Então caminhei. Andei sem medo, levada pela novidade. Acreditei em mim pois era só eu e o mundo. Então o mundo me mostrou Deus e eu deitei lágrimas de alegria e agradecimento, estranhei a natureza de sentimentos tão contraditórios, eu era só mas tinha Deus, como era possível? Entendi então que Deus não precisava ser possível, pois, mesmo impossível, ele seria.



in.: cartas p/ amarante, 03-12-10

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

sobre os sonhos e os fatos

(...)
E os sonhos, o que são? Devaneios presentes de um futuro passado, metáforas do real, os sonhos, o nosso combustível cruel e misterioso.
E os fatos, o que são? Pano de fundo dos sonhos, tentativas desencontradas de se organizar o caos que nos trespassa. Os fatos são cacos espalhados nos segundos que já passaram.

in.: os cadernos de viagens, 13-11-10
Rio de Janeiro

domingo, 23 de janeiro de 2011

ELA (de novo)

(...)Ela
Uma pessoa
que atravessou meu coração
sem precisar parti-lo no meio.


in.: Os Cadernos de Viagens, 27-11-2010
Belo Horizonte

sábado, 22 de janeiro de 2011

O NOVO VEM

Como um caminho disperso, sou trilhas cortando chãos. Atravesso ruas. Ela está aqui. Amanhã não sei: quedo-me nesse momento. Meu presente é sonho, dissipa-se num despertar. O amor existe assim como o sono insiste em se fazer palpável. Tudo bruma, um respirar e tchau. Vou embora, além na alma, tudo que vive morre, é a lei da natureza, a lógica cósmica: o novo sempre tem que vir.

in.: Os Cadernos de Viagens, 04-01-11
Mar del Plata

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MAR DEL PLATA

"3 dias de muitas nuvens e pouca praia em muitas intensidades. Bebidas, comidas, estrangeiros. Sonhos que respingam na chuva que cai lá fora. Aqui dentro, os amigos espalhados pela cama, os resquícios da viagem se acumulando pelos cantos do quarto de hotel, os momentos nostálgicos se condensando em instantes eternos. Depois que a chuva para e a terra seca... 'Teresa, você devia estar aqui e não escrevendo...'
...
a gente lembra

que viver é mais."



in.: Os Cadernos de Viagens - Mar del Plata, 06-01-11

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A CACHOEIRA

(...) A cachoeira canta pra mim hinos de sagrada beleza aquosa.
(...) Deixo que os sonhos toquem sua harmonia caótica, que ecoem com sua sede de real dentro do meu coração que deseja. Estou natureza como se residisse nas pedras e comesse oxigênio. A vida ao meu reduor deslumbrante me sorri plena de si: o vento me refresca as costas e eu sonho a realidade enigmática da terra que me abraça mãe sem tréguas. Ali logo a frente a cachoeira se presentifica: há pessoas nadando, uma criança grita de alegria quando sente a areia tocando seus pés. A formiga perdida aqui do lado dá voltas pela pedra que continua contando suas inúmeras estórias.
Assim a pedra sonha e eu reverbero meus sonhos nela.

in.: Os Cadernos de Viagens, Pirenópolis
11-12-10