domingo, 25 de dezembro de 2011

a comédia trágica

sonhos de seda rasgados
corações violados
em cima do rosto lágrimas
caminhos de rosas secas
roupas manchadas de sangue
a violência da ardência da paixão desvairada
correndo nítida nos fluidos do meu ventre
para sempre: nua e só.
crua como a carne que sou forçada a engolir:

o amor do meu tempo é uma farsa teatral.
e eu sou comédia.

in.: os cadernos do facebook

sábado, 24 de dezembro de 2011

O FANTASMA

Sonho. E no sonho me despedaço.
Há abismos entre os espaços
E cascatas onde correm erros.
Desconexão divina nos meus astrais
Há mulheres em meus sexos
E oceanos onde vagam mágoas.
Pecados coroados em folhas de jornais.

Sonho. E no sonho não sou eu
Mas ele. O grande Outro meu.
Nas brenhas escuras do meu ser
Escondido de mim vil inimigo:
O fantasma de todas as minhas perdas
Assombrando meu sono agitado.
Sangro sonho adentro e ainda sigo.

Sonho. E no sonho me arrependo.
Há pesar quando relembro.
Olhos que me viravam as costas
Sentimento pouco se dissipando
Era gozo, era carne e lágrima.
Ode triste à efemeridade
E eu só que vou despertando.

in.: os cadernos p/ mim mesma

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu Sei dos Sonhos das Árvores

São casas onde pudessem erigir lares
Sem precisar deitar raízes
Nos quintais serenos rios correndo águas
Trazendo e levando histórias.
Eu sei dos sonhos das árvores:
São verdes como seus olhos
E trazem o eco dos antepassados.

in.: os cadernos p/ mim mesma

domingo, 18 de dezembro de 2011

PEQUENO MANIFESTO DE AMOR PÓS-MODERNO

VAMOS! NÃO! SEM TROVAS DE AMOR!
SEM DONZELAS DESPROTEGIDAS!
VAMOS! CHEGA! SEM ROMANCES!
ABOLIÇÃO DOS CASAMENTOS!
DESTITUIÇÃO DAS TRAGÉDIAS!
RIDICULARIZAÇÃO! VAMOS! NÃO!
SEM POEMAS ÁRCADES!
SEM ILUSÕES ROMÂNTICAS!
VAMOS MATAR AS MUSAS
E DEITAR CUPIDO NAS SEPULTURAS!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CHEIRA A COR DE DESPEDIDA

O céu acinzenta-se
Vem chegando a chuva
Pintando meu horizonte
Solicitando minhas lágrimas
Perfumando minha tristeza.
Terra úmida. Verde abrindo bocas.
Vozes de lamentos
Nos salões dos céus.

Toda chuva é uma despedida.



in.: os cadernos p/ mim mesma

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LIMA, Jorge de

A MULTIPLICAÇÃO DA CRIATURA

Parece, Senhor, que me desdobrei,
que me multipliquei,
que a chuva dos céus cai dentro de minhas mãos,
que os ruídos do mundo gemem nos meus ouvidos,
que batem trigo, chorando, sobre o meu tronco nu,
que cidades se incendeiam dentro de minhas órbitas.
Parece, Senhor, que as noites escurecem dentro de meu ser múltiplo,
que eu falo sem querer por todos os meus irmãos,
que eu ando cada vez mais em procura de Ti.
Parece, Senhor, que tu me alongaste os braços
à procura de abóbadas raras e iluminadas,
que me estiraste os pés repousantes no Limbo,
que os pássaros cansados em meus ombros repousam
sem saber que o espantalho é a Semelhança Tua.
Parece que em minhas veias
correm rios noturnos
em que barqueiros remam contra marés montantes.
Parece que em minha sombra
o sol desponta e se deita,
e minha sombra e meu ser
valem um minuto em Ti.


in.: A Túnica Inconsútil