quinta-feira, 3 de março de 2011

Marília de Dirceu - Terceira Parte

...o claustro e o exílio...


LIRA II




Em vão do amado

Filho que foge,

Vênus quer hoje

Notícias ter.


Sagaz e astuto

Ele se esconde

Em parte aonde

Ninguém o vê.


Dos sinais dados

Bem se conhece

Que ele aborrece

A Mãe que tem.


Se os seus defeitos

Ela publica

Razão lhe fica

De se ofender


Foge o Menino

E, disfarçado,

Vive abrigado

Numa cruel.


Com mil carícias

A ímpia o trata;

Nem o desata

Do peito seu.


Se a semelhança

Sempre amor gera,

Deve uma fera

Outra escolher.


Ah, se o teu nome,

Marília, calo,

Que de ti falo

Bem podes crer.


Tomás A. Gonzaga, in.: Marília de Dirceu

terça-feira, 1 de março de 2011

Quando os sinos não dobram


São tantos significados

A se dessignificar dentro de mim.

As angústias ontem eu quis beber

Mas só hoje acordei

Pois era doce o soar do desengano.

Gritos ecoavam nos meus salões vazios

Eu era o horror ante o horror de si mesmo.

E tudo chorou dentro de mim.

E assim eu hoje acordei atravessando

O reverso de toda a dor que quero esquecer

Mas, se a esqueço, como fazê-la verso?

Ei-la dor diante de mim.

Mas ainda assim, doce.

Doce dor a dar-me o mistério,

Aquele que se incompleta a cada

Instante indelével em que sou

Gente.





in.: os cadernos p/ mim mesma, 26-02-11