sábado, 8 de março de 2008

A VOZ

Uma canção cantava-se a si mesma,
na rua sem foliões. Vinha no rádio
seu carnaval abstrato, flor de vento,
Era provocação e nostalgia.

Tudo que já brincou, brincava, trêmulo,
no vazio da tarde. E outros brinquedos,
futuros, se brincavam, lecionando
Uma lição de festa sem motivo,

à terra imotivada. E o longo esforço,
pesquisa de sinal, busca entre sombras,
marinhagem na rota do divino,

cede lugar ao que, na voz errante
procura introduzir em nossa vida
certa canção cantada por si mesma.



Carlos Drummond de Andrade

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