quarta-feira, 26 de março de 2008

INFÂNCIA INTERIOR

A criança e a bola
Fora da escola
Na rua das memórias
Dentro do brinquedo
Dentro do Adulto
A criança evoca
Vontade de não crescer

O doce e a boca
O colorido
Os gritos
O carro que voa
De encontro
Ao avião de plástico
Fantasia circundante

O adulto e a lembrança
A escola da vida
No tráfego das ruas
Dentro do baú o brinquedo
Dentro da Criança
O adulto evoca
Vontade de retroceder

E eu recordação
Rendição serena
Ao peso dos anos
Sou.



Teresa Minimalista Trotando Mundus

domingo, 23 de março de 2008

not again

...


o amor é um jogo de dados
dados os amantes
hei-los à sorte lançados

(em algum lugar de 2007)

terça-feira, 18 de março de 2008

poeminha p/ mama

te amo
desde o nunca
e para sempre

domingo, 16 de março de 2008

para Ela

Quando estou contigo meu coração se acalma e eu quase me esqueço de como o mundo é cruel por não nos deixar ser amor pelas 24 horas dos dias todos. Gosto de estar contigo pois sinto com tua presença o paulatino desvendar do meu mistério, pois gosto de te ver sorrindo, gosto dos teus gestos leves e tuas expressões duras, gosto de observar-te a existir. É bom estar contigo e olhar-te em profundo e dentro dos teus olhos ver a fortaleza do teu ser, a tua solidão sem freios, a mesma solidão que vibra em mim e em todos nós que somos e falamos e sentimos e amamos. Quero te dar o céu em mínimas gotículas de êxtase puro, te dar toda a minha vida embrulhada em um envelope sem perfume. Quero ser contigo sabendo da ruína de tudo, estar contigo sem ignorar a infalível natureza do tempo que tudo cria e tudo consome. Quero ter-te na agonia de uma vida inteira. Quero, quero, quero, e só quero você em tudo que quero. Sei disso e não quero mais saber de nada.
(...)
Você conseguiu me tomar por inteiro.
Um dia eu quis aprender a viver. Acho que consegui ou estou conseguindo, e isso acontece por causa da sua presença.
Só sei viver com você.
(...)
Minha vida devia acabar agora.
Pois desse modo eu saberia que morrer é aprender a amar.
(...)
Teresa continua trotando mundus

segunda-feira, 10 de março de 2008

POEMA PARA ALÉM DOS OLHOS MEL

Tens a beleza clássica
das luas em marfim.
A placidez das estátuas
que, gregas, dançam pra mim.

És meu amor sem sexo
que me açoita seco pungentemente.
Pétala de dons sinceros
que cai severa sobre o chão, fremente,
a desvelar a solidão de eras
que, jazente em minhas trevas
produz a semente eterna
nas próprias pétalas das moléculas.

Teresa Trotando Mundus

sábado, 8 de março de 2008

A VOZ

Uma canção cantava-se a si mesma,
na rua sem foliões. Vinha no rádio
seu carnaval abstrato, flor de vento,
Era provocação e nostalgia.

Tudo que já brincou, brincava, trêmulo,
no vazio da tarde. E outros brinquedos,
futuros, se brincavam, lecionando
Uma lição de festa sem motivo,

à terra imotivada. E o longo esforço,
pesquisa de sinal, busca entre sombras,
marinhagem na rota do divino,

cede lugar ao que, na voz errante
procura introduzir em nossa vida
certa canção cantada por si mesma.



Carlos Drummond de Andrade

sábado, 1 de março de 2008

carta p/ mininu

"Hoje veio uma senhora de 70 anos anos na loja onde trabalho. Conversadeira e solitária. Disse-me que quase se casou 3 vezes mas que o destino determinou que ficasse só. Contou-me histórias de noivos que morreram em desastres de avião ou que traíram e foram dispensados então. Contou-me que amou um motorista de ônibus e que seu vizinho dentista estava lhe sendo inconveniente e tentando conquistá-la. Disse que não queria mais ninguém mas que embora fosse velha também gostava do "negócio" e que sua vizinha lésbica fazia muito barulho com a namorada pelas noites afora incomodando o seu sono de senhora de 70 anos. Perguntou-me se eu era casada e eu disse que não, no que então me retornou dizendo que eu não ficasse só, pois viver sozinha era muito triste. Insistiu em dizer que o destino era inquebrantável e que o que tivesse de ser, seria. Solidarizei-me com ela.
Penso na solidão. 'Viver sozinha é muito triste'. Mas morrer deixando alguém talvez seja ainda muito mais."