segunda-feira, 22 de junho de 2009

mais tecitura de signos

Procuro as palavras e encontro barulhos: bater de picaretas, soar de vozes, explosões de neurônios. Dendrito, axônio, núcleo, dendrito. Palavras e líquidos, livros, idéias. Eu vejo a face da morte por detrás da máscara do espelho. Não há imagem sem dualidade, e o dois é a morte do um. Procuro as palavras e encontro os números, as multiplicações dentro dos integrais, o big bang desmascarado, o mistério do mundo desvelado pela matemágica do pensavento, ou algo assim.


In:cartas para heloisa

quarta-feira, 17 de junho de 2009

a alma, o espelho, e deus

"The mirror is round and entire, he said: like a soul that is in union with God. The soul reflects the dazzling beauty of God. In so far as the soul turns towards this beauty, it participates in it. By receiving the image of God it is transformed, and ends up sharing the very beauty it has sought and to which it has opened itself. God becomes part of the soul.
(...)
Why are we so often frightened to look for long into our own eyes in a mirror? Jesus asked: is it beacause we fear to see God reflected in there? We must learn from the woman, to look into the mirror more."

"O espelho é circular e inteiro, ele disse: como uma alma em união com Deus. A alma reflete a beleza deslumbrante de Deus. Assim como a alma se direciona a essa beleza, ela também participa da mesma. Quando recebe a imagem de Deus, a alma se transforma, e acaba por compartilhar toda a beleza que procurou e para a qual se abriu. Deus passa a ser parte da alma.
(...)
Por que frequentemente nós temos tanto medo de olhar para nossos próprios olhos num espelho? Jesus perguntou: é porque nós tememos ver Deus refletido lá? Precisamos aprender com as mulheres a olhar mais no espelho."

In.: Wild Girl. Michèle Rogers.
Tradução qualquer

domingo, 14 de junho de 2009

desromantizares

Mas vivo a geração que não sabe amar. Não sabe porque a todo momento quer reinventar o amor: os corpos suados, os parceiros postiços, as relações descartáveis. Vivo a geração do amor camaleônico de cama e banho apenas, a geração dos que fazem das relações pequenos jogos de interesses ególatras: vivo a geração dos homens e mulheres que se perderam de Deus para se encontrarem a si mesmos.
E no espelho viram os olhos do Senhor.


In.: cartas para o único reich

segunda-feira, 8 de junho de 2009

boneca de retalhos de palavras

No domingo eu tô fumando e fumada tomo o comando do avião que são as linhas cruzando o céu azul e branco do papel que diz qualquer coisa sentimentada e

Pára. Sonda. Sonha. Gira.

Estou dançando com a espanhola de cabelo de cetim e pele de veludo, lábios bordados num vermelho azul que se escorre por todo o seu corpo de boneca.

Ela foi costurada com palavras e nunca terá vontade própria. Ela é o recorte desferido no meu rosto exposto em lágrimas: ela se chama Emilia e é o meu amor deitado morto pelo azul da hora de crescer: adeus, brinquedo e olá, guerra.


In.: cartas para clarice

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A FRONTEIRA

A vida, tão frágil. Sento-me sobre os restos do meu dia.
A morte ágil a tricotar ciladas com dedos maquiavélicos.
Meu olhos cantam o medo: já estivestes na fronteira de
Perder alguém?
Assim, sem mais nem menos, alguém a menos em tua
Vida.
A morte, a armadilha, o precipício aglutinante da dor,
A sepultura diante dos olhos incrédulos, a injustiça,
O desespero.
Eis logo ali o fim da travessia, da nossa irmã,
Da nossa vida com ela, eis a despedida, ai.
A fronteira de perder alguém me alcançou, meu peito chia.
Senhor, me ampare, eia, adeus,
Morrerei também com ela pois ela
Morrerá em minha vida.
A vida nos constrói as tocaias, é ela. A morte só espreita.
Não crês no invisível, não te toca a fragilidade?
Eia, adeus, o fim do poema propaga a idéia
E a alma se liberta para reencontrar o mistério.


In.: cartas para o menino meu, o machado amarante