quarta-feira, 28 de outubro de 2009

cartas p/ g. branquinho

Eu me leio tropeçando feio já aos 26 anos de idade, a casa vazia, os olhos vacilantes, a solidão cavalar: troto sozinha os mundos que sem perceber invento. E tem sido ventos de esfriar as lágrimas, terrenos acidentados, tepidez desértica arrebatando a alma. Aprendo na marra: meus dias são só meus, carrego-os nos ombros, estou sonora pois choro os rios que em mim deságuam: anos e anos de humanidade acumulada latejando no meu sangue que nesse momento vive.

Sim, eis o meu sangue que vive vermelho e que morre logo ali, como se simples assim fosse.

Mas não é. E infinitas idéias vivem no meu sangue que pulsa através do tempo.

Estou

ficando

louca

com tantas idéias.

Não que seja verdade que eu realmente esteja mentalmente lesada, mas sim, estou enlouquecida. Não me caibo em mim, mais do que nunca tomada por minhas fraquezas e sustentada pelos meus sonhos vagos.




sábado, 24 de outubro de 2009

POESIA DA ROTINA DIÁRIA DO MEU TEMPO

QUERO ESCREVER A POESIA DA NEGRA ESPERANÇA
ONDE OS SONHOS CARREGAM GRILHÕES E SE ARRASTAM
ANTE A VISÃO MÓRBIDA DO PRESENTE.
AS VOZES QUE SÃO CALADAS
A MELODIA TRISTE DAS ROTINAS DIÁRIAS
DE HOMENS E JORNAIS.


In.: cartas para o maestro.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A TECER ILUSÕES ... ATÉ SER ILUSÃO

Bem diante de mim minha verdade escancarada:
Foi pra isso que vim: para ter a missão num abraço
E no regaço o descanso do próprio destino,
A manhã se abrindo ou o sol a pino,
O amor platônico ou a paixão inventada
Com café bem forte ou chá de jasmim
Diante de mim num sorriso o cotidiano aberto.

Pois a poesia vibra vida nas notas de um violão
E na mão que treme um verso desescondido:
Despertar do dia na alegria simples de uma rima,
A mesma que ensina
A supremacia da beleza entristecida
Que observa a tecitura de todas nossas ilusões sublimes.


Alinhar à direita
in.: cartas para helô

sábado, 17 de outubro de 2009

diálogos na internet II

PAULO diz:

O FUTURO NAO PERTENCE A NOS

ELE É QUE É DONO DA GENTE

Gertrud diz:

eu não sei disso

ele quem?

PAULO diz:

O FUTURO

NAO O CONTROLAMOS

Gertrud diz:

ah sim

eu pensei q fosse deus

pq o futuro a deus pertence

PAULO diz:

ENTAO SE PERTENCE A DEUS SOMOS SÓ ESPECTADORES

Gertrud diz:

tipo isso

mas não só espectadores pq tb somos personagens

PAULO diz:

SOMOS PERSONAGENS MAS NAO CONTROLAMOS A HISTORIA O TEXTO JÁ VEM PRONTO

Gertrud diz:

mas todo ator que é ator sabe improvisar



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A KHOLSTOMER DE TOLSTÓI

(mais um pôr-do-sol no monumental)

Quando tenho pena de mim mesma
Sofro como uma égua velha
Que come devagar e tristemente
E leva a barriga imensa pesando nas costelas
Como se carregasse dentro do ventre
A própria dor do deus que foi perdido.
Depois da pena, segue o desleixo
E no meu corpo gasto e abandonado
Meus pêlos pendem animalescos e indispostos.
Como uma égua velha durmo em pé
Apagando a vida e procurando o sonho.


in.: os cadernos de brasilha, 29-07-09

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

os trotamundus

saudades bem cabeludas: olhe que belas

pernas que correm nuas no campo isolado

pés que tocam tambores com o chão

palavras que inventam viagens

andávamos e portanto andarilhos

nesses mundos nos deixamos assim

na medida em que vinha o vento


ao pararmos era longe e olhamos para trás

não havia volta: às costas

nosso destino nos esperava:

junto a um cavalo selado

as roupas e o livro em branco

prestes a ser escrito


Trotamundus! Eia,

Aqui é além

Os laços também são nós.


in.: cartas para felipe lott

sábado, 10 de outubro de 2009

POEMA

Solitária escrevo para qualquer um que compreenda:

A vida é uma bruta duma contenda.

Uma disputa entre o claro e o escuro.

Por vezes as trevas comandam

E a alma às cegas apalpa navalhas

Feridas que desnorteiam os destinos.

A escuridão onde se escondem rancores e mágoas.

Em outras: eis a luz: a alma que abre a janela.

Lentamente, o desvendar do segredo da cela:

O túnel que guia à liberdade...

Caminho estreito e longo na direção do oblíquo.

Luz que me guia através do escuro.



in.: cartas para dra. L.



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

pôr-do-sol no monumental

Eis a vida: ela nasce e cresce, simples assim.
Nesse interim, eis-nos. Nunca os mesmos.
Pela manhã berramos a fome: queremos
Peito no nosso peito, alimentação de calor.
Ah, a dor do primeiro corte, a eterna separação
De si mesmo no outro.
Aberto ao contrário: somos os assassinos
De nossos próprios desejos.
Não temos idéia da grandeza que somos
E pela noite morremos
Como se começássemos a sonhar.


in.: os diários de Brasilha, 09-09-09