quarta-feira, 27 de agosto de 2008

a menina sonha mulher ou vice-versa

O sonho grandioso que sonhei com ela quando tínhamos 39 anos de idade. Ele foi de uma beleza ímpar, suave visão irremediável que me marcou pelo resto da vida. Como posso apagar o que o futuro demonstra dentro do meu coração sonolento de menina de 20?

Coisa cruel é rasgar com as unhas o céu cinzento dos meus sonhos gloriosos de menina. Não quero antever escuridão onde a calma das nuvens anunciava uma garoa calorosa nos braços da minha só minha morena de olhos verdes. Deixe as nuvens serem nuvens. Não rasgue meu céu, não me invada com escuridão. Eu a vi balançar sob as folhas de uma árvore imensa, de galhos cinzentos como o céu e copa esverdeada como os seus olhos alvoroçados, no balanço da gris alvorada de meus sonhos de menina nua e rendida ante a intangibilidade da verdade do amor. Não me faça rasgar os sonhos que vivi com toda a minha alma, uma vez e somente os sonhos únicos e ingênuos que nunca mais haverão de ser como foram naquela ocasião perdida na memória.


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O discípulo de Emaús

Jesus Cristo não esperou a maturidade para liquidar os sábios e doutores: fê-lo aos 12 anos.



Murilo Mendes

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

o peso dos sentimentos

E no domingo sou contagiada pela letargia da minha vida que se escorre lenta pelos buracos que permeiam os átomos. Um clima de desalento e desencanto preenche a minha casa e eu queria estar longe daqui. Queria poder me juntar aos vazios dos átomos para que também minha amargura fosse feita de imaterial e eu não a sentisse mais.
Os sentimentos carregam o peso da matéria.

domingo, 17 de agosto de 2008

carta p/ d.

Como está você? Imagino-te em cotidianos cariocas com o mar no horizonte e garotas de Ipanema a rodear o seu coração imenso de amor. Imagino-te o menino-homem que conheci há cerca de 8 anos atrás cheio de um brilho cálido no olhar. Imagino-te D.B nas ruas de uma Rio de Janeiro que surpreende a cada dia.

Enquanto isso, cá eu, nessa Brasília seca, onde os gramados geométricos trincam um sorriso amarelo árido e cortante. Cá eu trincando no final da tarde que já carrega um azul denso que anuncia a noite.

E pensar que desfrutei de praticamente um mês pelas ruas de minha Belo Horizonte querida, a percorrer morros e bares, a compartilhar de sorrisos e reencontros, a experimentar o frio acolhedor das minhas Minas Gerais... Pensar nisso é reaver a esperança no dia de amanhã candango que se anuncia nesse meu horizonte de baixa umidade relativa do ar.

(...)
Mas, amigo, que alegre é o reencontro! Nem que ele se dê somente na memória, que alegre é!

sábado, 16 de agosto de 2008

HETEROSSEXUAL

o homem que me habita
é a mulher
que em ti suplica


Lorenzo Ferrari (Movimento Poetrix)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

INUTIL(MENTE)

de que valem
meus versos de amor,
se teu coração é analfabeto?


Angela Bretas (Movimento Poetrix)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

AMOR PLATÔNICO

de que vale um rosto
se não sei do resto
se nem sei do gosto


Judith de Souza (Movimento Poetrix)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

AMAR-A-LOUVAR O VERBO

Como não palavrear, quando a realidade não basta?
Minhas veias pulsam por palavras para preencher o vazio
Da própria veia.
Circulação celeste no coração que canta o ritmo
De istmo a istmo
Do planeta e da alma
Só para louvar o verbo.


amaralouvar
o verbo
cantando
é bom

terça-feira, 12 de agosto de 2008

carta p/ meu mestre filósofo professor sitiado barbudo de lá ...

A Universidade toma meus tempos: adoro viver o campus e seus gramados, árvores, caminhos, bancos. Confesso que já não sou a aluna exemplar que um dia fui, e faço o meu mínimo com ares exaustos. Gosto mais é dos bastidores, a academia não me apraz. Já não penso mais em mestrados, só quero aproveitar o conhecimento que a convivência dentro de um ambiente universitário me proporciona. A vida é imensa, não cabe em livros ou em salas de aula. Quero devorar o mundo, mas sei bem que posso queimar meus lábios nessa audaz tentativa. De qualquer forma, cá eu, sem diploma e com verdades transitórias a tira-colo.

E digo-te: a transitoriedade nos trespassa. E nós com a velha vontade de segurar os momentos... Ah, como dói a saudade de outrora!
Mas, eia, na saudade o outrora cavalga e toma forma. Não resta nada, no final das contas: só o "eu" e suas lembranças sem conta.
Viver é uma lição trabalhosa. Mas a gente vai pegando "as manha", sacumé? A gente acaba por calejar e aprender a dinâmica de si mesmo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

carta p/ g.

Você que se deita sob a sombra de minhas lembranças inventadas. Você serenidade trazendo-me a paz sufocante da nostalgia.
Eu queimo velas vermelhas em forma de coração e tambores tocam eles com cordas de violão ao meu lado. Rouba-me o olhar a Lua, Linda, no alto do céu do Cruzeiro. O Sul. O meu sul em mim, a minha descida ao um bigo abaixo. Fim. Início. Meio. Em cheio sou e tendo a palavrear isso, tendão tentando palavrear isso que sou.

O Sol saiu ontem à tarde dando ares de sorriso à menina desconhecida sentada no ponto de ônibus.
A outra menina na praça deserta acende um cigarro e brinca de amarelinha com a Morte amarelada sob o Sol.

(...)

Acho que no final das contas todos nós nos matamos de tanto viver.