terça-feira, 22 de setembro de 2009

SOBRE EUS E SENADORES

Ah, a literatura é academia que é quimera diante da vida ególatra que quer gritar: mulheres e homens de toda a Terra, uni-vos em prol da vida! E eis que o coração pulsa e a alma sonha e quer desconjuntar a superestrutura desse nosso atual sistema pseudo-democrático, essa democracia que nada mais é que uma burocracia do demo, onde satanás com seus belzebuzinhos faz morrer milhares para apadrinhar alguns que jogam dados e decidem vidas e leis, sistema de apostas de vaidades e de joguetes de poderes, colarinhos roxos (de falta de vergonha) e presidentes do senado ilesos saindo com os rabos escondidos dentro das calças nos carros oficiais para os apartamentos funcionais para as milhas e milhas de viagens para toda a família: Sra. Senadora, Srta. Senadorinha, Senador Jr., Vovó Senadorona, Genro Senador e Nora Senadora, sobrinho Doutor Senador, Dona Senadorinha, e tantos outros da mesma estirpe, sustentados pela ruína moral de um país inteiro.
Eis a burocracia da pseudo-democracia do demo, o povo. Que povo é esse que acata isso? Que povo é esse que se vende por isso? Não é o mesmo povo das escolas negligenciadas deliberadamente e dos hospitais sem leis e das periferias explosivas, enfumaçadas de pedra e descaso? Ou o país dos interioranos sem água mas cheios de esperança nas promessas dos crápulas de gravatas que enchem suas piscinas com água mineral e cheiram cocaína no lixo da nossa Constituição? Sim, eis o país que fazemos e que fizemos desde tempos irrefletidos, perdidos na nossa memória coletiva, nossa história de reis, coronéis ou senadores, quaisquer desses déspotas sem vergonha que comandam prefeituras, berçários, delegacias, tribunais, secretarias.
Que mundo é esse que construímos?
Amiga engenheira...
Roguemos às pedras dos túmulos de Che Guevara ou Ghandi, esses homens sem túmulos, sim, roguemos às pedras da Terra que engole os corpos físicos mas que absorve também a energia de toda a nossa história; que a utopia viva e a mudança aconteça, primeiramente dentro de nós.
Eu vivo para procurar a cura.
Eu acredito em milagres.
Que a humanidade renasça outra vez.


in.: cartas para vivi

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ciborguear guerreando e cagando

Às vezes escrevo não para tentar fazer poesia ou divagação filosófica, mas simplesmente para entrar em contato com algum ser humano, um contato físico, pelos átomos do papel e pela emoção da caligrafia, um contato que ecoe o incrível da experiência humana.

Sim, ser humano humano humano e desconhecer o que é humano... Ser pulsão e irracionalidade e pensamento e ciência. O que é Deus? O que é universo?

Amigo! A filosofia não comporta a magnitude infinita do universo, muito menos a ciência o faria!

Mas a religião aponta um dos caminhos: o espírito é necessário e a humanidade não deve compartimentar seus conhecimentos: a transdisciplinariedade, contudo, existe?

Como conhecer sem criar um ponto de vista?

Para ler Machado ou Huxley, preciso ter a literatura em vista?

Para ler o mundo, só a antropologia basta?


O mundo está mudando freneticamente. Vivemos a era intensa da revolução digital e tecnobiológica (genética!). Mudamos paradigmas em questão de décadas. Cagamos nas mesmas instituições que ajudamos a criar. Comemos lixo. Assassinamos nossos descendentes e desrespeitamos nossos ascendentes. Maculamos nossa própria casa e jogamos pedras nas dos outros.

Onde paramos? Já nem sabemos mais porque ir.

Que geração é essa, que consome todas suas esperanças em janelas de computadores?



In.: cartas para o filósofo

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

a invenção de nós mesmos

Não. Não melembrodosmeussonhos.
Mas abro os olhos para a realidade lancinante da vida: nada vale a pena, nem uma palavra, nem um poema. Não existe pena que valha, apenas somos todos tragados pelo movimento pendular da vida. Ela nos empurra para cá e para lá, num ciclo indefinitivamente, até que o cordão arrebente e cortemos qualquer ligação com essa existência misteriosa.
Sim, nada vale a pena até que inventemos algo fantástico que nos faz permanecer vivos como sombras fantasmagóricas que somos: meros bibelôs do universo, enfeitando uma sala de visitas que não reparam em nada. Passamos pela vida como bólidos que se dissipam deixando um rastro que também se apaga. Somos marionetes manipuladas pela mão do invisível que nos engole.
Assim, então, que invento hoje para valer a pena? Brinco com a esperança dissimulada que tenta ser verdadeira dentro de minha fantasia. Olho ao redor e percebo os homens: estão vencidos, comprados, corrompidos pelos seus próprios desejos. Então eu choro e percebo que minha invenção é como um brinquedo para alguém que já cresceu: nada mais sem propósito, porém dotado de alguma beleza nostálgica e impertinente. Minha imaginação também se corrompeu e eu jogo com os dados das Parcas, que, sorridentes, engendram meu destino de vivente fugaz que se apaga no tempo irrefletido.
Observo minha vida: não há propósitos e nem destinos. Apenas. Caminhos.


in.: cartas para amarante, o machado

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

garimpando destinos

Sim, sou como ele e como vários, eu, ele, nós, vocês, todos. Uma humanidade inteira numa ínfima faísca de luz que nasce no tempo. Assim como se Deus quisesse algo, eis Adão surgindo e comendo com Eva. Eis o desejo que escapa por entre os dedos de Deus só para ser pego logo ali, como se Deus tivesse mãos.
O universo é o meu eu ao avesso. Tantos universos! Incontáveis eus passageiros, boiando na essência do cosmos! Oh, matéria inapreensível, energia inabalavelmente misteriosa!
Quem disse que não há destino, quem falou? Que destino ingrato esse do que não tem destino, se movendo ao léu em meio a uma indefinição avassaladora! Ah, abismo de escuros, explosões dolorosas de luz, ah, incoerências!
Mas no meu palco eis o enredo já escrito, na antesala entre a realidade e o teatro, no interim entre o tempo e a imobilidade. Eis o intervalo enigmático onde deita a vontade de Deus.


in.: os cadernos da chapada - 21-07-09

terça-feira, 8 de setembro de 2009

subindo a antena de são jorge, GO

A manhã já passou. Eu espero a onda do dia que vem me beijar devagar, como se eu fosse praia... O salgado do mar me vem à boca: é a brisa que sopra metáforas no meu rosto.
(...)
Pôr-do-sol na antena de celular. O laranja que se dissipa, o azul-lilás, sinestesia silenciosa.
Pássaros muitos pretos e marrons.
Estranhos que vêm e se vão como se nunca houvessem existido.
Sim, sim, sim, estou aqui mesmo como se nunca estivesse, estou e estarei.
E cada lágrima é um sorriso a menos
Ou um ensinamento a mais.


in.: os cadernos da chapada, 22-07-09

terça-feira, 1 de setembro de 2009

carta p/ g. branquinho

Se eu te escrevesse algo sobre o amor seria que os relacionamentos humanos, principalmente os que envolvem sexo, são todos problemáticos e inexplicáveis, e por isso mesmo acabam por trazer muita dor de cabeça e, principalmente as, fincadas no coração.

Homens e mulheres são todos muito vulneráveis e por isso mesmo egoístas, por vezes cruéis sem nem o saber.

Mas sim, como é bom sentir no peito a leveza pura e simples dos apaixonados...

E, no entanto, eis-nos amigas e mulheres que amamos demais às nossas maneiras, completamente conscientes da insanidade imoral ou doentia desse amor de querer ter, possuir entre os braços, acalentar no regaço, dizer o que quer que seja, amenidades...

E de repente a quebra: por um motivo ou outro, nós impedidas de amar esse ou aquela, indefesas, vencidas pelas conseqüências da vida.

Mas persistamos. A esperança é o dom eterno.

Não sei o que é escrever cartas, Gabriela.

Sigo a linha da vida e ela grita.

Passarela onde desfilo: parágrafos.

Quartos que se abrem para que estranhos entrem.

Sejam bem-vindos ao submundo de mais um de meus eus.

Líricos.

Versos ricos como os lírios do campo

Amplo

Paráfrase sem licença: pena sem juiz: roupa sem costura.

Qualquer palavra que se sinta...

Seja bem vindo, seja bem-vinda.