segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DOSTOIÉVSKY, Fiódor

"(...) todos nós, e com bastante freqüência, agimos quase como loucos, apenas com a pequena diferença de que os "doentes" são um pouco mais loucos que nós, porque neste caso é necessário distinguir o limite. Já o indivíduo harmonioso, e isso é verdade, quase não existe; em dezenas, e talvez até em muitas centenas encontremos um, e ainda por cima em espécimes bastante fracas..."

In.: CRIME E CASTIGO

domingo, 26 de outubro de 2008

esperando o baú

A primavera em Brasília quente
Estou esperando ônibus que me leva
A visitar meu pequeno amor singelo
E o ônibus dura uma eternidade
E não é só porque hoje é domingo
E ninguém gosta de trabalhar
É também porque o amor
Odeia esperar

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

RETRATO COM MACONHA E MORRISON

Não consigo dormir. Mais coca-cola. Cigarros. Vícios.
Eis o meu retrato: bagulhos espalhados pelo quarto.
Psicodelia fluindo das caixas de som para meus ouvidos
Converso com Jim Morrison sobre a insanidade
Das crianças que são vozes a gritar lá de fora
E daqui de dentro do prédio a cidade de concreto
Se assoma como uma redoma cunhada em estruturas sociais

Artefatos como o ônibus azul
Que nos chama a viajar dentro das caixas de som
Que cantam as crianças a sentir o gosto de ter voz
E caminhar e invadir o meu quarto com o seu timbre
Infantil. Patinetes. Gritos.
Mas, "pai, eu quero te matar"
E, "mãe, eu quero te foder"

Quebro as estruturas sociais e fujo para os guetos
E nos guetos me entrego ao sexo que é amor desnivelado
E nas quebradas escondo meus crimes e cuspo nos costumes
E na derrota sou vitória pois resisto para além de glória ou honra
E esse é o fim
A fantasia em pedaços e o corpo em decomposição

sábado, 18 de outubro de 2008

carta p/ raposa gata

"(...) o meu amor calado, aquele amor puro e ingênuo que perdi há milênios atrás em algum bordel de beira de estrada, aquele par de olhos verdes que consumiu meus anos pueris de homossexualidade dúbia e romantismo cego. Você se lembra? Meu amor platônico consumiu-me até lavar meu orgulho na merda, e eu cheguei às vias de minha morte em vida, tudo em nome do meu amor de sonhos rodeados em gozo e saciedade, do meu amor, do meu amor, do meu amor. Mas ele mostrou-se infértil e tomou todas as feições doentias da loucura. E eu o sufoquei com algum travesseiro enquanto ele dormia. Mas deitei-me sobre o mesmo travesseiro, sabendo que no sono o meu amor ressuscitaria em sonhos.
E cá eu hoje, incapaz de enxergar o amor como o via, deplorando a amargura da minha realidade que acusa a verdade dos relacionamentos: trocas meramente egoísticas e destinadas à auto-satisfação de desejos solitários.
Mas lá, no sonho, lá eu o tenho, o meu amor, e ele me revela a esperança que brota dos seus olhos verdes e eu pacifico minha alma pois sei que tudo pode acontecer. A física quântica me permite isso.
Mas aqui, quando acordo, sei que para sempre serei só e mulher alguma no mundo tirará de mim a dor de ser humana. Entretanto, uma ou outra podem, ocasionalmente, amenizar minha tragédia."