domingo, 31 de outubro de 2010

Tão Brasília

Cá eu num gramado em frente à EPIA e à Octogonal.

Tão Brasília.

Fui à Taguatinga de camela, sem capacete.

EPTG em obras.

Adoro viver perigosamente.

Como um D’artangnan justiceiro – mas não vingativo.

Saio cortando o vento e o trânsito.

Responsável porém apressada, pois o tempo urge:

Isso aqui é Brasília e os minutos escorrem

Gota a gota dentro do meu ser de asfalto.

Estou cidade.


in.: cartas p/ anna k.

domingo, 24 de outubro de 2010

Academia Universitária

Nos submundos da universidade maconheira
Eis que sobranceira pinto minha cor de solidão.
As salas abandonadas são os refúgios
Dos poetas desterrados em seu próprio lar.

Estou sozinha com o baseado
E o subterrâneo é meu:
Fantasmas arrastam carteiras pelos corredores
Os professores falam e falam
Sempre tentando fazer com que o relógio
ande mais rápido ou mais lento, mas ande.
E os alunos indo e vindo sem distinção,
Cada qual com o seu umbigo peculiar.

A academia treme em sua base
Mas os diplomas continuam a ser produzidos
E
então
Eu

Embaixo
Nos submundos da UnB
Com a teoria entre os dentes e a
prática sobre a carteira.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

NÃO TENHO MEDO DO PROFANO
ELE TAMÉM PROFETIZA VERDADES
A FERRO E FOGO
AQUI ELE TAMBÉM É PRESENÇA
DE ESPÍRITO
A CERVEJA E AS GARGALHADAS
COM OS DADOS DO DESTINO:
LANÇADOS SOBRE A MESA,
AS VELEIDADES BENDITAS
OS SABORES DAS BOCAS
DA PERCEPÇÃO
SIM, ABRINDO AS
PORTAS COMO BOCAS,
AS PERCEPÇÕES DA MATÉRIA
O PROFANO SAGRADO
DA HUMANIDADE EM EXERCÍCIO

(NO BAR)

24/09/10


in: os cadernos p/ mim mesma

domingo, 17 de outubro de 2010

cartas para hugo em julho

Aí o cenário: cerradão cinza quebrado pelo amarelo do sol que se põe no horizonte seco. Árvores que retorcem lânguidas e harmoniosas na lentidão de seus movimentos autótrofos: tão sábias e tão serenas são elas! Para entortar a natureza corta ali a estrada de concreto dos homens, os veículos zunem motorizados e eu escuto em som amplificado o meu silêncio interior.

A solidão me lança à evasão nas coisas. Veja: a formiga passa logo ali embaixo. As nuvens são poucas, os ônibus barulhentos. Ah... Quem sou eu que diviso tudo isso?

Pouco de mim se escreve. Muito de mim se especula. Na minha escrita surgem várias vozes: não sei quem sou, mas cá estou contando os segundos desse pôr-do-sol no cerrado. Logo ali passa um quero-quero e mais pra lá voa um tesourinha. Os mosquitos me pousam e eu vou embora adentrar o tempo.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

aleatórias

O meu dilema é vazio como um sonho sem dono.

Nossos corpos inexistem: são meras projeções

De algo há muito já perdido.

O meu dilema é de todos nós: devaneio da morte.

Flutuo absorta na minha metafísica esperançosa.


(...)


Adicta a meus anseios refrescados pela fumaça

Das motocicletas eu distância etérea

Como os desfalecimentos das nuvens

Nos ventos secos de setembro

Entrando na veia do poeta o aceno do

Final do ano

Vamo que vamo


in.: cartas p/ giuliani