quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

23-05-09

Não compreendo. Os olhos vêem e são eles que dão a forma. Os olhos pintam os quadros. As imagens nos povoam através dos olhos. Também compreendemos com os olhos.

Os nossos olhos devorando a natureza. Ela de verde geométrica em Brasília, ela também de cinza, natureza humana que é, de cinzas e seca e sintética como o pneu que se gruda fervente no asfalto da capital sem freios. Os nosso olhos no carro cinza que passa levando dentro e embora o nosso amor ingênuo de milênios atrás.

(...)

Vejo-me. Sorrio.

Meu único defeito é ser triste.





in.: cartas para o filósofo

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

sobre o clovis

A FAUSTO

Agora é a vez da boemia da destruição consciente:
Eis meu bêbado amigo Fausto
O falso playboy que virou plebeu
E morou na rua
E fumou na lata
E fez tatoo de cadeia sem precisar ser preso.
Eis meu amigo louvando a vida
Do seu jeito liberto sem cabresto
Falando claro mesmo enrolando a língua.



in.: cartas para helô

domingo, 24 de janeiro de 2010

diálogos em casa de elaine

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DIVAGAÇÕES SOBRE A ROMÃ
D: Como era provar a energia da romã?
T: A romã em seu sabor dava pouco mas gostoso.
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sobre o Desejo



Vou aos poucos dissecando o meu mistério interior, essa dor de ser fracasso naquilo que mais desejo: o amor, veja, ele me abandonou no berço. Os homens que amei? Meros brinquedos quando eu mal aprendia a andar, brinquedos que me amaram e que eu amei com a inocência das crianças, meus homens que aos poucos foram desaparecendo do meu horizonte afetivo. E então elas por fim chegaram me avassalando e mostrando a cor de seus sexos sedutores e me tiraram a razão quando eu finalmente gozava na cama pela primeira, segunda, décima vez, e então eu enxerguei o céu e vi que o amor era sério, tão sério que me fazia crescer ao ponto de não me bastar em mim mesma e era eu que queria mais e mais mas não sabia como encontrá-lo, o amor que, finalmente, fugiu de mim me deixando enlouquecida e faminta.



in.: cartas para o reich

sábado, 16 de janeiro de 2010

NA VIRADA DO ANO

A virada do ano: almas em orquestra de batuques.

As sentenças cheias de bonança: os gritos de alegria

E o forró de arrasta-pé trespassado pelos pés no azulejo industrial.

A contemporaneidade aguda: lições e erros

As montanhas que tombam e

Os rios que erigem milagres: impérios de pedra e alma.

Somos nós: homens de mistérios

Nós intrespassáveis, indestrutíveis.

Desafiantes à altura de Alexandre:

Golpeados pela vida mas com o gosto dos sonhos nos lábios.



in.: os cadernos da chapada - vol. II - cavalcante

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

DO EFÊMERO

Levatepelotextoqueinexiste
É a vida: perplexa pois pássaros orquestram
E a abelha dança no movimento dos meus olhos
Mas nós não somos nada pois estamos presos no tempo
E o tempo acaba ali.

Maslevatepelotextoqueinsiste
Há o sonho: ele nos lança ao incorpóreo
E aos reencontros por através do caos do cosmos
Mas nós não somos nada pois vivemos várias vezes
E a vida acaba ali.



terça-feira, 12 de janeiro de 2010

a mágica sem oz

Veja: borboletas não têm sexo e mesmo assim só beijam flores coloridas. Não importa o alvo, só o caminho importa: jogar-se nos campos sonoros, adentrar os tijolos dourados, atravessar o tornado, encontrar o coração mesmo que ele seja de lata. A menina busca seu cão e seu cão busca a humanidade: ele quer ter lágrima, ele quer sorrir. A menina sorri e corre, deslumbrada e ansiosa, ela perscruta todos os ângulos, ela se envergonha e se parabeniza. E busca os rastros do cão que passou antes dela, e segue as pistas que lhe são evidentes até chegar ao castelo onde por fim se despe do vestido azul e se percebe mulher e decide adorar o espelho até finalmente mudar e quebrar o espelho para nunca mais ter que ver sua imagem distorcida pela realidade.

E lá ela permaneceu eterna até se tornar não ela e terminar a estória e adentrar novamente a poesia dos significantes espontâneos e a busca é incessante e os olhos querem flores para as pálpebras, borboletas e asas, leveza inventada de sonhos, anjos de carne que aparecem a mortais feitos de luz.


In.: cartas para luciana