quarta-feira, 27 de maio de 2009

a voz da criança

“Eu acho que deus não terminou de criar o universo

Porque o universo não tem fim

E deus ainda está criando novas coisas”

(“Toque de criança" – Casa Redonda – Carapicuíba - SP)

terça-feira, 26 de maio de 2009

CONSTRUTIVISMO

Provoque. Provoque, coloque em xeque, desconserte.
Enlouqueça e incite o enlouquecimento, ironize,
provoque outra vez de novo ao contrário do avesso,
Faça com que surja o imprevisível.
Mobilização interna.
Já tenho o fogão, a cama e o cobertor na sala da mente.
Avante e rente, crie respostas, ouça, veja.
Pare. Erre. Pare outra vez. Erre de novo.
Faça a curva e curve-se, leve-se leve.
Deixe-se ser tomado.
Plane sem plano.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

carta p/ a dona do lago

Venho dizer que sou uma farsa que persiste adiante criando mundos. É uma tarde triste, uma garota dobra barquinhos de papel para jogá-los da janela do oitavo andar. Os rios secaram, a criança é presa de seus próprios desejos. Barcos de papel não voam, a garota me chama com sua voz de mármore sonoro. Ela é mais alta que eu, ela tem um balançar mais feminino. Mas ela não sabe, não sabe que o papel é dúbio, os rios secaram, é inútil debater-se pois os barcos não alcançarão os portos.

Mas a garota me chama, ela é sonora, sua voz me perfura. Não sei o seu nome mas vislumbro o papel que ela encena: está desejosa, me acena carinhos, tenta soprar meu suor. O papel ela dobra em barco e me lança através da janela. Ela quer beijar mas, muito mais, ela quer falar para se mostrar máscara, ela vem dividir a farsa comigo que aceito passiva sua intervenção dobrada em silêncio.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

carta p/ g. em março

E, afinal, por que vivemos? Que desígnios intermináveis residem no intervalo de nossa existência? Hoje passei o dia dentro de casa e me senti inútil e confortável. Estou vendo a vida passar e assumindo minha ordinariedade intrínseca. Ser humana e padecer no inferno e mesmo assim ter tempo de inventar algum paraíso.
A vida é tão frágil... Um simples desarranjo orgânico e eu sou tomada pelas garras da morte... E quando eu morrer pensarei novamente: por que vivi? E a resposta não virá pois não terei mais tempo para pensar. Padecerei. Desaparecerei. Não ouvirei os lamentos dos que me amaram. Não decifrarei o mistério da vida e adentrarei o mistério da morte tão ignorante e inocente quanto quando nasci.
E então! Que melancólica essa existência! Que construir, se tudo será destruído inevitavelmente pela ação do tempo? Que buscar, quando o corpo está cansado e a psique abalada? Que fazer, amiga, senão viver e suportar uma existência inteira?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

abelhas e bestas

Mais um dia trespassado por entre meus átomos, esse dobrar de ângulos e papéis que é o tempo nos abocanhando e mastigando e cuspindo fora para abocanhar de novo num movimento acelerado que aponta para o apagamento de sermos finalmente engolidos e passarmos ao interior da escuridão do tempo que nos toma de cabo a rabo.

Estou abestalhada. E não sei se sou eu ou é o mundo, pois tudo se confunde. Estou abelhas.

A besta existe, tem chifres espiralados e lúgubres, e um sorriso escancarado, ela existe e tem olhos vermelhos e ela sai voando com rabinhos de capeta a balançarem no traseiro empinado, numa dança de cadeiras atrevidas e zombeteiras.

Estou abestalhada. Abelhas e bestas me invadem.



In: Cartas Para O Menino Meu