domingo, 26 de junho de 2005

Não tem graça nenhuma

A música sempre muda
Nos sonhos, a moça de marcas de tinta no braço me tomava entre os braços.
SEMPRE MUDA.
O meu dente ciso está cariado.
SEMPRE MUDA.
Sinto falta do amor que nunca tive.
SEMPRE MUDA.
Todos os dias aproximadamente às uma e meia da tarde vem um beija-flor beijar as flores do canteiro em frente à janela da enfermagem.
SEMPRE MUDA.
Meus pés estão bronzeados com marquinhas de havaianas.
SEMPRE MUDA.
O meu irmão quer ir lavar privada em Londres.
SEMPRE MUDA.
Tenho raiva da maioria dos homens.
SEMPRE MUDA.
Tenho medo das mulheres.
SEMPRE MUDA.
Há uma distância imensa entre o meu falar e o meu fazer.
SEMPRE MUDA.
Não há distância alguma entre o meu escrever e o meu sentir.
SEMPRE MUDA.
Eu sou essencialmente tímida.
SEMPRE MUDA.
Festa de criança no McDonalds é um pé-no-saco.
SEMPRE MUDA.
O pôr-so-sol em Brasília tem um quê de incrível.
SEMPRE MUDA.
Ficar só também é bom.
SEMPRE MUDA.
Eu tenho o pé grande.
SEMPRE MUDA.
Eu sou essencialmente cinza.
SEMPRE MUDA.
A roupa dela era bonita.
SEMPRE MUDA.
Ela era bonita.
SEMPRE MUDA.
Ele usava camisa xadrez no dia em que o conheci.
SEMPRE MUDA.
Ela usava calças xadrez.
SEMPRE MUDA.
Um cachorro chamado Pepper me deixou uma cicatriz do lado da minha boca.
SEMPRE MUDA.
Eu tenho pintas na bunda.
SEMPRE MUDA.
Eu queria ter levantado pra ver o sol nascer com você.
SEMPRE MUDA.
Eu gostaria de nunca ter jogado sinuca com aquele libanês.
SEMPRE MUDA.
Rosquinhas Mabel é gostoso pacas.
SEMPRE MUDA.
Eu queria ter ficado em Londres.
SEMPRE MUDA.
Chorar é melhor que cheirar.
SEMPRE MUDA.
Água sanitária mancha roupas.
SEMPRE MUDA.
Tem gente que acredita em fadas.
SEMPRE MUDA.
Eu tomei chá de lírio certa vez e vi duendes.
SEMPRE MUDA.
Sentimentos são incontroláveis.
SEMPRE MUDA.
Pedro Pereira Pinto pediu passagem para Pirapora e partiu.
SEMPRE MUDA.
Não tem graça e dói.

sábado, 25 de junho de 2005

aquele eu que eu era.. aquele eu que ainda sou..

agora que as pedras já rolaram e eu percebo, do alto do morro, que na verdade a tristeza possuía outras motivações.
agora que eu sinto o gosto amargo da derrota por eu ter sido assim, eu mesma.

agora é que eu choro de verdade. pelos reais motivos. e não eram pedras.
(substituição de significantes! defesas inconscientes!)

O gosto do choro que sai escorrendo
Pelas minhas narinas e chega a minha boca
E passa pela minha garganta.
É o gosto da melancolia que desce pelo meu esôfago
E de tão denso e duro sai rasgando
Atrapalhando o meu coração de bater.
É a tristeza plena que cai pesada no meu estômago
E permanece profunda dentro das minhas profundezas.
Indigerível, eu a vomito.
É a minha dor que, de pura revolta, vem à tona
Irreconhecível, eu a disseco pelo olhar
Não sabendo distinguir ao certo
O que é falso, o que é verdadeiro.
É a minha angústia que não tem lugar.


a música que mais tem tocado em mim chama-se oceano de distância, a atual recém-nascida. as pessoas gostam, dizem, linda. (era ela linda mesmo...) . eu me sinto bem quando isso acontece, mas toda vez que toco essa me dá uma vontade sufocante de chorar, aquela antiga vontade de sumir. e ainda assim toco e toco e retoco e retoco (prova: eu sou mesmo masoquista). há muito eu não sentia algo assim, através de uma minha música. minha e não só minha.

a letra, aqui, um pedacinho de nada, pra que...
"deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer..."

pan... panpanpanpan-panpan-pan... panpanpanpan-pan-pan-pan...
(..)
e eu nessa minha triste ilha deserta tentando bolar um jeito de construir uma jangada esperta
pra desbravar esse oceano enorme que meu desejo desperta
mais ai de mim! não sei velejar!
ai de mim! não sei velejar!
abraços não falariam, não falam... corações não falariam, não falam...
e-mails... (...)
eu queria (...)... só pra mim...







amor? é, realmente, sim, concordo, uma merda. e a gente ama, olha só.
(essa temática vai sempre vir a tona, eu sempre mudando minha opinião a respeito Dela)

segunda-feira, 20 de junho de 2005

é namoro ou amizade, lombardi?

Ricardo de Loureiro conversando com Lúcio...


"- É isto só: - disse - não posso ser amigo de ninguém... Não proteste... Eu não sou seu amigo. Nunca soube ter afectos, - já lhe contei - apenas ternuras. A amizade máxima, para mim, traduzir-se-ia unicamente pela maior ternura. E uma ternura traz sempre consigo um desejo caricioso: um desejo de beijar... de estreitar... Enfim: de possuir! Ora, eu, só depois de satisfazer os meus desejos, posso realmente sentir aquilo que os provocou. A verdade, por conseqüência, é que as minhas próprias ternuras, nuncas as senti, apenas as adivinhei. Para as sentir, isto é, para ser amigo de alguém (visto que em mim ternura equivale à amizade) forçoso me seria antes possuir quem eu estimasse, ou mulher ou homem."

SÁ CARNEIRO, Mário de. A Confissão de Lúcio.
(esta sou eu, sentada na esquina, a mesma esquina, seguindo a canção...)

domingo, 19 de junho de 2005

as respostas atrás de enormes portas

"é muito curioso...

eu tomo o veneno e fico esperando que você morra."

essa quem mandou (num exaustivo grupo de terapia) foi a janete, a doutora. alguém já me falou.

a vida é questão de escolhas. mas o que me deixa indignada é que nem sempre essas escolhas são conscientes. daí, como é que podem ser verdadeiramente escolhas?

inconscientemente eu faço o meu caminho.
novas portas se abrem. portas que não sei onde vão dar.

sábado, 18 de junho de 2005

metal contra as núvens, eu contra eu

Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.


(Eu gostaria de dizer que vivo mesmo sem saber. É o que resta.)

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói.
Estes são dias desleais.
(Quando eu era criança eu queria ser criança para sempre.)
(...)
É a verdade o que assombra,
O descaso o que condena,
A estupidez o que destrói.
(Eu não acredito mais em amor. E não tem nada de mais nisso.)
(...)
-Tudo passa, tudo passará-
E a nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas para contar.
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer.
Não olhe para trás -
Apenas começamos.
O mundo começa agora -
Apenas começamos.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

que nem cachorro em dia de mudança: perdidinha, perdidinha

"dizia ele estou indo pra brasíliaaaaaaa.... nesse país lugar melhor não há......."


acho q ele estava enganado. há sim lugar melhor.

(ai ai... nostalgia...)

eu tou com saudade da serra.... dai-me piedade!

ai que saudade da kombi do ézio! ai que saudade!

aqui é tudo muito plano. que chato.

sábado, 4 de junho de 2005

cortes mal-feitos

E eu agora tenho cicatrizes. Uma delas me dói à medida que faço determinado movimento. A enfermeira sem olhos verdes me disse que talvez seja porque o corte que deu origem à cicatriz atingiu algum tendão. Agora, independente de qualquer coisa, aquele movimento, aquele determinado movimento, sempre irá me doer. E a cicatriz sempre estará lá. E a cicatriz é só minha. E a dor é minha e só minha. Eterna.

Dor que me dói que me dá ódio.
Pra sempre.