segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

oração

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E agora?
Tudo vem de fora!
Sinfonia de cigarras sob templo feito de nuvens: anjos tocam trombetas no céu que aurorece como ouro: as bases desse templo dão o tom dourado que me invade os olhos no lacrimejo simples de meu coração... A obra que Deus me deu é essa que descrevo aos trancos e barrancos, nos solavancos do meu peito, esse céu sagrado que o mistério colocou em minha vida: meus amigos, meus amores. Eis a cura do mal que inventei pra mim.
A solidão é benesse também. Me dá rigidez de espírito, afia minha alma. Sabemos já de antemão: nascemos sozinhos e sozinhos morremos.
(...)
Ciclo que se renova. Vidas que vem e vão. Força que me bate o peito: prepara meu coração! Que os ventos não me abalem, que meus dias não percam a cor! Que meus medos não falem, que em tudo eu credite amor! Que os anjos povoem os sonhos e que eu ouça todo o esplendor da vida em todos os momentos de minha existência.

in.: os cadernos da chapada, vol. Cavalcante II

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

a dialética da consciência

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esse imenso mistério ensurdecedor.

Às vezes parecemos adormecer com a alma serenizada, as dúvidas varridas para fora da casa do coração. Mas bastam-nos os sonhos para que os incômodos fracassos voltem à tona ao amanhecer. Então acordamos para um novo dia novamente realimentados em dúvidas e nadando indefesos na imensidão do acaso.

Hoje meu dia amanheceu domingo azul e belo, haviam flores nos olhos das pessoas, eu sorri. E no final da noite já eram trevas novamente: dei de encontro com tropeços que deixaram meu coração machucado. Quis voar em direção ao espaço e sumir na solidão de mim mesma. Então me deitei sobre minha cama toda desarrumada e pensei em te escrever e a sensação de deitar palavras sobre o teu papel é algo que me acalma o espírito da angústia imorredoura que sempre me povoou a alma: amanhã morrerei e o sentido da vida é bruma, muito embora eu acredite vislumbrar de longe o sentido da morte.

Busco o amor. E ele parece sempre escapar entre os dedos. Mas foi ele que me restou ao acordar do sonho.


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in.: cartas p/ dionis

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cachoeira do Poço Encantado

Terezina de Goiás, 12-10-10

Poço
Em que compartilho minhas alegrias e meus dilemas.
Escorrem-se pelas tuas pedras as lágrimas da terra na cachoeira que entoa cânticos de dor e de esperança.
Os ensinamentos também fazem doer e os encontros vão se desencontrar um dia.
Sorri a poesia pois mesmo assim serei bela: a dor tem seus traços serenos, envolve-nos com seus braços fortes para no fim adornar nossos semblantes com a beleza da experiência.
Lá se vão as desavenças: escorrem como a água da cachoeira.
Não há nada como o tempo para cicatrizar as feridas.

in.: os cadernos da chapada

sábado, 4 de dezembro de 2010

conexões

Avistei no horizonte da tela do celular
Hugo Lins chamando
Eu atendendo e sendo transportada
Para o parque da cidade
Com latinhas sobre a mesa de concreto
E estórias dos amigos verdadeiros
Que mudam no mistério dos encontros.
À primeira vista, amor.
À segunda vista, diálogo.
À terceira vista, sabe-se lá o que!

in.: os cadernos p/ mim mesma

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Segunda Epístola aos Coríntios

"É por isso que nós não perdemos a coragem; e mesmo se, em nós, o homem exterior se encaminha para a sua ruína, o homem interior se renova dia a dia. Pois nossas tribulações de um momento são leves com revelação ao peso extraordinário de glória eterna que nos preparam. O nosso objetivo não é o que se vê, mas o que não se vê; o que se vê é provisório, mas o que não se vê é eterno.

Pois sabemos que, se a nossa morada terrestre, que não passa de uma tenda, vem a destruir-se, nós temos um edifício, obra de Deus, uma morada eterna nos céus que não é feita por mão de homem."



Capítulo 4, 16-18

Capítulo 5, 1


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

dos sonhos sem poupar excessos

Boa parte de meus sonhos se perdeu na estrada, mas nessa perdição eles acabaram por encontrar outras pessoas para ser sonhos novamente nelas. E nessas pessoas meus sonhos vicejaram dentro e fora de mim.

Para então, enfim, se perderem novamente, rumo ao infinito e cada vez mais distantes da dor.


in.: os cadernos para mim mesma, 08-11-10