segunda-feira, 18 de junho de 2012

DAS EMOÇÕES HUMANAS

A astúcia é qualidade rara
Dos espertos.
Dos humildes, guardo a ingenuidade.
E nos poetas a paixão
É tão feroz a ponto de rasgar o peito.

O amor que é a grande ventura
Dos humanos.

Nos irascíveis, guardo o ódio.
E dos amigos quero guardar
A sinceridade do olhar.
Nos invejosos, vejo a cegueira de gerações
E nos arrependidos
Ouço a singela música do perdão

E o amor é a grande aventura
Nossa.

A harmonia, eu agora a vejo só nos pássaros.
Enquanto isso, hoje em dia,
A honestidade é artigo raro
Que eu não sei onde comprar
E nos mercados qualquer pessoa
Pode adquirir vaidade.
Dos clientes, guardo primeiramente o lucro.

Mas o amor é, de longe,
O grande acontecimento da vida.
Dos que amam
Só quero guardar
Amor.


19-05-12

domingo, 3 de junho de 2012

O Progresso da Desordem ou a Herança do Colonizador


Eu sou o jovem viciado em heroína
Que pelas ruas de Oslo vive
Em busca do próximo tiro.
Eu tenho no olhos o horror nativo
De ter crescido sozinho na selva
De mim mesmo.
É esse o contexto:
Ando pelos parques e pelas ruas
Que falam norueguês
E tudo que me preenche
É a busca pelo próximo tiro.
Estou magro porém não rendido.
Estou viciado mas não morto.
Carrego meu corpo por ruas que nunca vi
E azulo meus olhos nos azulejos
Tristeza cinzenta no inverno que chega.
A heroína nauseabunda!
Essa Europa que me habita
A jovem portuguesa que abre as
Pernas para o inglês traiçoeiro
Que come francesas na ceia.
Eu sou essa holandesa
E sou essa patética Finlândia
Onde o fim nasceu e cresceu.
Eu sou esse antigo espírito viking empreendedor
Que lapidou a África
E derramou sangue
Nos desertos e sertões.
Que moveu os Lusíadas pela mão de Camões
Que exaltou Aquiles
Que matou milhões
Que lotou naus e que enganou
Em escandalosas proporções.
Eu sou a dor dos índios
E o choro das índias
Na terra amada
Que me abraçou
E que eu traí.
Vera Cruz que construí,
Judas que sou,
Em ti meu sangue germinou, Brasil.
Nasceu poemas nas caatingas
E canções habitaram os pampas.
As motoserras rugiram na mata.
No final daquele século,
Vieram as máquinas escravizar os trabalhadores.
Um século depois, ainda reinavam os coronéis
Que herdaram meu patriarcado: triste quinhão de brasileiro.
Eu sou a herança vergonhosa do colonizador ignorante.
Perdido, sou apenas um viciado
A procura do próximo tiro
Pelas ruas de heroína
Esperando a próxima Oslo.

A europa fragmentou-se
No meu progresso da desordem

in.: os cadernos p/ mim mesma
maio/2012

sábado, 2 de junho de 2012

30-04-12

Oposto a meu caminho
Diviso um ninho de espinhos.
Em poucas folhas verdes,
Estórias de ferimentos.
No rosto me bate o vento
Roubando a feição da face

Levando o mau sentimento
Oposto a meu caminho
Às sombras do esquecimento.