quarta-feira, 27 de julho de 2011

aleatórias

Coca adoça a boca.

Coca.

Opa.

Na casa dos meninos Mauro e Rodrigo.

Estou sob o efeito do álcool – Heineken e Boazinha – e da gandja – marafa boa da granja. Estou ouvindo os carros e os Caetanos. Os maracás importados da China e a África baiana. Estou em Brasília e estou cansada também de viver aqui na terra.

Por isso vou tentar atravessar a Lua pra ouvir a luz fraca do lado de lá: o Caetano vai embora e nas dunas e crateras cenozóicas há bandeiras brancas enfiadas em pau forte.

Mas diga-me, triste Brasília? Que vapor de cachoeira é esse do mar? E a Bahia? A estrela do norte não pode ser do sul?

O quão dessemelhante!

Triste?

...



in.:cartas p/ o fotógrafo, março/2010


sábado, 23 de julho de 2011

o painel

Cara, não que eu queira sofrer, mas eu quero muito criar, e o que mais crio na vida é sofrimento. Um cadim em dezembro, mais um tanto em janeiro, outro estrondoso ranger de dentes em fevereiro e ossos quebrados em março e nessas de colecionar dores vou atravancando na estante da memória pilhas e pilhas de troféus que não servem para nada além de ocupar espaço.


in.: os cadernos p/ mim mesma, maio de 2005

segunda-feira, 18 de julho de 2011

não há escapatória II

Tomo um mate argentino. Penso no inevitável. Meus pensamentos cada vez mais solitários: encaro a realidade com ares ansiosos. Não devia ser assim. Reflexo dos sonhos frenéticos? Talvez. Mas e esses sonhos, são reflexos de que? A resposta é óbvia, não arrisco colocar no papel. Apenas espero. Sufoco os sonhos. Esqueço o futuro e tomo o mate.

Não há escapatória. Atravesso a vida e sustento minha emoção exagerada. Não havia meninas no sonho. Havia eu e eu e eu e eu... Somente.


in.: os cadernos da argentina

domingo, 17 de julho de 2011

O ENIGMA DE SONHOS CRIPTOGRÁFICOS

O ENIGMA DE SONHOS CRIPTOGRÁFICOS

(...)

Os dias. As noites. As férias. Os sonhos. Sim, eu chegava atrasada ao trabalho. Mas parecia que ninguém se importava. O sonho, os sonhos, sim, tomam forma. Rememória. O ano está acabando. Meus sonhos são tantos. Confusão, confusão. Gosto disso: deixar ser, já que não há outra opção. Vivo como mandam os momentos. Esses escritos às vezes não fazem sentido algum. Escrevo, escrevo, e tudo que quero dizer é que não escrevo o que quer ser escrito, não porque eu não queira, mas simplesmente porque não consigo saber exatamente o que quer ser escrito.

Estou estranhando meus cadernos de viagens. Talvez porque, pela primeira vez, novamente, uma moça me vem fazer companhia nesses meus dias tão viajantes. O que quero escrever não é passível de ser escrito.

O que quero escrever só pode ser vivido em silêncio, no segredo do coração.


in.: os cadernos da argentina, buenos aires

quarta-feira, 6 de julho de 2011

a rave

Os graves eletrônicos ribombando cerrado afora. O dia amanhecido entre os meus dedos. Só isso importa. Esse agora em que escrevo, momento imenso em que me derreto.

Vaga-lume cortando o céu azulado do começo do dia. Na tenda trançada no seio da terra a festa intermitente trance a soar nos meus ouvidos que chamam por mais efeitos sonoros que vêm como vão as pegadas do dj na pista que toda dança como todos que aqui enlouquecem.


in.: cartas p/ felipe

sábado, 2 de julho de 2011

minha pequenez humana

Sinto-me tão pequena. Por que será que tudo é tão grande? Às vezes é assustador: como a morte que vem do alto, meteoro do tamanho da Lua. Ou de baixo, lava que derrete tudo. E então tenho tanto medo... Rezo baixinho, tremendo de desespero. Fico pensando se Deus vai me ouvir, imagino que se ouvisse talvez não precisasse me dar, vendo em mim o ódio que se esconde escorrendo e contaminando o mundo. Contando em meus cabelos meus pecados. Apontando os meus erros no espelho.

Mas isso tudo sou eu que fico pensando, pois deus só quer e age através de mim. E eu só existo através dele.


in.: cartas p/ amarante