quarta-feira, 29 de março de 2006

Vinicius de Morais

AUSÊNCIA
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

a desolação

faz bem.

faz bem escrever mandando todas as convenções pro espaço.

enquanto na vitrola rolava um vinil do belle&sebastian ela se perguntava quando é que iria comer novamente naquele restaurante japonês e em que século eles estavam. ela sabia que pela manhã teria uma pilha de folhas para rasgar e milhares de telefonemas para não dar, mas nem se preocupava em dormir tarde. às vezes não fazia diferença se era uma ou dez horas. um sonho durava sempre mais do que ela supunha durar. e ela fumava um cigarro apagado e sorria da sua desgraça como quem sorri diante de um futuro que era totalmente imprevisível.
ensurdecedor, era pensar.

segunda-feira, 27 de março de 2006

quando não há mais chão

alguém me mandou um mail....

"quando o chão some de debaixo.. o que a gente faz?"


como? não sei.

no momento estou caindo.

há um ano e meio estou caindo.

só esperando q apareça outro chão logo, pra eu me esborrachar de vez e ficar livre disso tudo.

domingo, 26 de março de 2006

"then she came...."

me encontro atualmente no buraco onde enraizo minhas origens: carmo do paranaíba.

um dia desses, após voltar de uma festa no pedra, um vizinho amigo meu, encontrei mamãe sentada na frente do computador, às duas e meia da matina, conversando com não sei quem de não sei aonde no msn mEssenger, com uma janela de bate-papo do uol como pano de fundo na tela.

pensei: não acredito.

o fascínio. lembrei-me do fascínio como quando com meus 11, 12 anos de idade pela primeira vez me sentava na frente do computador e acessava lugares estrangeiros e conversava com pessoas estranhas no conforto de minha solidão em frente a máquina.

esse fascínio q contagia. q faz a gente se render. q nos ilude na ingenuidade e nos rouba das certezas.

e pensei nas gerações virtuais q, já crescendo em meio à incerteza, não se espantam e não se fascinam com a artificialidade e facilidade de tudo isso.

cara. internet é uma coisa.

uma coisa.
uma coisa, assim, uma coisa mesmo, objetal, mas ao mesmo tempo humana e impalpável.

é muito esquisito. a gente tá cada vez mais híbrido.

se oc num tah entendeno naum posso fazer nada.


(vou dormir com deus hoje. tenho certeza.)

sábado, 25 de março de 2006

desgraça pseudo-divina

...

o momento é de pura falsa nostalgia
tipo memórias de fatos apenas i memoriais
a constatação das ruínas do monumento de isopor

dura
ilude
a desilusão

quarta-feira, 22 de março de 2006

inverossímel porém verdadeiro

eu: quase como eugênia grandet.

paixão doentia. pra sempre na pauta do dia.

mais um dia, mas um dia...


"Muito freqüentemente, certas ações da vida humana, literariamente falando, parecem inverossíveis embora verdadeiras. Será isso porque nos esquecemos quase sempre de derramar sobre nossas decisões espontâneas uma espécie de luz psicológica, deixando de as explicar pelas razões misteriosamente conhecidas que as determinam? A profunda paixão de Eugênia deveria, talvez, ser examinada em suas fibrilhas. Porque, como se poderia dizer por gracejo, ela se tornou uma doença e influenciou toda sua vida"


BALZAC, Honoré de. Eugênia Grandet.

quinta-feira, 16 de março de 2006

face a face

sua face é sua
minha face é minha

mas quando estou com minha face em face à sua
já não sei mais quem é quem

e já não sei dizer as coisas
sem ter medo de me perder

quem onde quando como
eu você

quarta-feira, 15 de março de 2006

COLEÇÃO DE PALAVRAS ALEATÓRIAS MAS NEM TANTO

movidas horas pelo barulho inconsciente
gavetas minhas à tarde
nada de coisas fantásticas
real no molho sal sem cortinas
como porém eram toques piano
não obstante a menina cabeça dentro
dança sem virar os olhos para esquerda
roxo coração ela diria masturbação mental
graça em esquinas com divindades bestas
mal-estares bélicos anualmente sim
ria que pela bahia sushis ventam



alguém se habilita???

sexta-feira, 10 de março de 2006

ATRIZES TRISTES

Dia-a-dia na guerrilha em busca da felicidade
Aquela dita alegria se esvai na efemeridade
Mais um dia banhado em angústia e tristeza
Mas o amanhã nos revela lampejos de esperança

É, momentos ruins dilaceram sim todo e qualquer coração
Mas as horas felizes também são atrizes das nossas vidas em encenação

Dia-a-dia nas trincheiras, a alma reflete agonia
Deprimentes depressões depredando depressa a alegria
Mais um dia lotado de vários questionamentos
Mas o depois embriaga as almas com esperança

Vale lembrar que também existem atrizes tristes



em algum lugar de 2000

terça-feira, 7 de março de 2006

insistindo em surtos neuróticos obsessivos

eu tenho um grande defeito. o nome dele é teimosia.

a teimosia me acompanha. mas, ah, que nada, eu nem sou tão teimosa assim não, porra!




enquanto isso, outra ela me acompanha...
a ela da ilusão. da fantasia. do desejo incontrolado.

ah, insisto em não deixá-la. mas ela já me deixou há muito, muito tempo...

sexta-feira, 3 de março de 2006

trote à

"A PARTIDA

Dei ordem de irem buscar meu cavalo ao estábulo. O criado não me compreendeu. Fui eu mesmo ao estábulo, ensilhei o cavalo e montei. Ao longe ouvi o som de uma trombeta, perguntei o que significava aquilo. Ele de nada sabia, não ouvira nada. No portão deteve-me, para perguntar-me: - Para onde cavalga o senhor?
- Não sei - respondi -. Apenas quero ir-me daqui, somente ir-me daqui. Partir sempre, sair daqui, apenas assim posso alcançar minha meta.
- Conheces, então, tua meta? - perguntou ele.
- Sim - respondi eu -. Já disse. Sair daqui: esta é minha meta."
KAFKA, Fraz. A muralha da china.

quinta-feira, 2 de março de 2006

DARWIN

o amor às vezes se confunde com seleção natural.
o que é uma pena.



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eu e minhas estúpidas direções