terça-feira, 16 de setembro de 2008

cadernos de viagem - belo horizonte, são lucas

Noite adentro descobrindo o corpo da mulher que o acaso me trouxe e que se deita comigo agora imensa na cama a interferir nas minhas linhas, ela que se ri vendo Jô Soares e eu que me rio
lembrando da nossa cama há momentos atrás.
Gosto do gozo que vem do dentro do ritmo do conjunto da orquestra dos toques das peles que desejam e que milagrosamente se conectam rendidas sabe-se lá porquê.

relembrando agosto de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

ANTERO DE QUENTAL

Quando a sede nos seca o paladar,
E o sol a pino o peito nos esmaga,
Se enfim se chega à praia, junto à vaga,
Quem hesita entre a areia e entre o Mar?

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Pater - parte V.

ao Divino indizível

Ele, o Deus sem nome...
Aquele inonimável que repousa
Na nossa respiração...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

carta p/ menino homem com soldados de plástico

Eu tenho dores de cabeça e sinto-me intoxicada de pensamentos. Sou mais uma alma no front e vejo relâmpagos num horizonte cinza, num horizonte sem céu. Há sangue em minhas mãos, eu rosno em agradecimento à vida e clamo o nome do Divino. Há sangue em minhas mãos e eu preciso de um cigarro para engolir a mim mesma a seco. Eu soldado, mudada para sempre.
Mais uma alma no front inundado de lágrimas que correm por dentro do peito. Mais um corpo dormente e abraçado com um fuzil na noite densa e cinzenta. Mais saudades de casa na guerra estrangeira de uma soldado sem pátria.
- Bebamos um vinho essa noite, general. Em homenagem aos mortos, por favor bebamos pois ainda, nessa noite sem céu, estamos vivos, coronel. Bebamos pois somos todos soldados e estamos vivos como homem que somos, tenente. (...) Bebamos, cabo. À vida, gente.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

carta p/ L. em papel azul

Querida,

que durmas com anjos nessa noite de alegrias em cadência azul e única pois é assim que o negro da noite é o azul que pacifica-se escurecendo. Desejo que durmas nessa calma imensidão de azul com anjos pois aqui do meu lado respiras e és angelical dentro da inocência do sono.
Nunca estive tão em paz quanto hoje, dentro desse seu meu azul
nosso azul pequeno e sincero.

hoje eu te amo

Por favor, não desperdicemos juras de amor eterno. Tudo o que existe, um dia finda. Demos graças então, pois ao menos existe algo em nós, mesmo que tão amargamente transitório, como tudo que existe é.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

GARCÍA MÁRQUEZ

Fermina Daza está de volta!

"(...)Era outra: a compostura de pessoa adulta, os botins altos, o chapéu de velilho com a pena colorida de algum pássaro oriental, tudo nela era correto e fácil, como se tudo tivesse sido seu desde sua origem. Achou-a mais bela e viçosa do que nunca, mais irrecuperável, como nunca, embora não tenha compreendido a razão até notar a curva do seu ventre devaixo da túnica de seda: estava grávida de seis meses. Entretanto, o que mais o impressionou foi que ela e o marido formavam um par admirável, e ambos manejavam o mundo com tanta fluidez que pareciam flutuar acima dos escolhos da realidade. Florentino Ariza não sentiu ciúme nem raiva, e sim um grande desprezo por si mesmo. Sentiu-se pobre, feio, inferior, e não só indigno dela como de qualquer outra mulher sobre a terra."

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. O Amor nos Tempos do Cólera.