terça-feira, 29 de agosto de 2006

em homenagem ao finado amigo do camelo e ao camelo em si (e em homenagem aos olhos no espelho)

"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma?

(...)

A mulher então experimentou o camelo. O camelo em trapos, corcunda, mastigando a si próprio, entregue ao processo de conhecer a comida. Ela se sentiu fraca e cansada, há dois dias mal comia. Os grandes cílios empoeirados do camelo sobre os olhos que se tinham dedicado à paciência de um artesanato interno. A paciência, a paciência, só isso ela encontrava na primavera ao vento. Lágrimas encheram os olhos da mulher, lágrimas que não correram, presas dentro da paciência de sua carne herdada. Somente o cheiro de poeira do camelo vinha de encontro ao que ela viera: ao ódio seco, não a lágrimas."

LISPECTOR, Clarice. O Búfalo. In.: Laços de Família

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

viveeeeeer.

nova música quase pronta

uma gota de otimismo
pode alimentar enorme rio
de fora um sol que brilha
deu a luz a uma de suas filhas
a árvore que dança
traz nas folhas verde esperança
há um céu azul piscina
que mistura dor e alegria
mais uma sinfonia em um raiar de dia

viver pra que?
amigo eu vou dizer: eu vivo é pra viver

o joão-de-barro canta
e a joaninha segue a dança
o meu neto já faz birra
o meu filho ainda não nasceu
a menina de vestido
tinha os olhos verdes muito lindos
ah menina de vestido
que vermelha me olhou sorrindo
mais uma chuva vindo
mais um fruto caindo

q coisa.