terça-feira, 22 de maio de 2012

O Menino Que Pôs Saias

O corpo tinha sexo: masculina.
Mas a criança do primeiro berro
Sexo não tinha: era criança.
Posto que criança, corria a amplidão,
Empinava pipas e quebrava brinquedos - sem querer.
Era criança e assim cresceu - foi menino
Até sua primeira menstruação.
Imagine a ira da masculinidade ferida
Orgulho castrado descendo sangue abaixo.
Aberração na poesia afora.
Menino então pôs saias
E continuou a beijar meninas
Mesmo usando absorventes uma vez por mês.

sábado, 12 de maio de 2012

exorcismo derradeiro

Hoje é que são outras: estou tentando controlar as emoções, e a saída é mergulhar num conformismo que faz tudo perder a cor. Procuro enfadada o charme dessa vida em preto e branco tomando expressos e ouvindo músicas espirituais. Um ponto de macumba aqui, um hino ayahuasqueiro ali, um nashid islâmico acolá, um gospel e um mantra pra finalizar. Qualquer mensagem de força dos mundos benfazejos do espírito, pois as sombras que me tomavam vez ou outra vêm tenebrosas povoar meus pensamentos, a tristeza impera, o ódio ecoa, o rancor se aprofunda. Cuspo na cara do meu pai, fujo da minha responsabilidade de filha, onero o patrimônio de minha memória às custas do meu próprio pesar. E todos meus atos soarão pela eternidade afora, imutáveis, inapagáveis. Então preciso controlar as emoções, essas irracionalidades ancestrais que carrego em meu sangue. Essas catarses animalescas que sinto no correr das lágrimas e no timbre dos sorrisos. Estou a desvendar faces minhas que nunca imaginei ter. Horrores absurdos diante do espelho. Meu desafio maior é carregar o fardo cármico de meu eu desconhecido.

Dói a conformidade. Ela traz serenidade mas está encharcada de melancolia.

Procuro a indagação, novamente:

Como saber a próxima pergunta?
Ah, meu ser incessável,
Minha ansiedade insaciáve!


O beijo, a véspera do escarro,

não deve mais haver.

A boca se fecha calada
Esperando finalmente
O seu alvorecer.

O sol se põe para todos.

in.: cartas p/ amarante

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Meu Erro

A raiva da minha escrita é a
Ira contra mim mesma.
Eu me fazendo presa
Nessa jangada vacilante.
Eu, esse ser trotante
Essa podridão seca,
Esse tempo ruim que se vai, embora
Bela criatura humana
Certa, errada, mundana
Juventude que emana
De um ser que se desfaz em rugas;
Uma amante errando pelas ruas,
Uma serva da paixão indrédula
A profetizar sonhos equivocados.
Eu, esse trem de ferro.
Cor que se enferruja
No morrer do velho:
Amanhã eu serei eterno.
Hoje sou o erro.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

DE MIM PARA COMIGO MESMA



Não! estou renascendo.
Sou eu e mais ninguém.
Sozinha no mundo da mocidade
Trazendo no peito toda a potência da vida:
Coração que pulsa valente
Amor que se faz presente
De mim para comigo mesmo.
A esmo: eu que me encontro
Nesse deserto de oásis só meus.

Avistei amigos
Rostos sentados
Fotos que se vão.

Belos sorrisos
Outros amados
Pedras no coração.

Todos se foram.
Todos virão.

Amor! A flor da amizade!
Deveria ser esse o título
Desse poema desencontrado.