quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ROSSEAU, Jean-Jacques

"(...) Ainda não faz dois meses que uma calma absoluta voltou a meu coração. Havia muito tempo eu nada mais temia, mas esperava ainda, e essa esperança, ora alimentada, ora frustrada, era uma via pela qual mil paixões distintas não cessavam de me agitar. Um acontecimento tão triste quanto imprevisto veio por fim apagar de meu coração esse tênue fio de esperança e me fez ver meu destino fixado em definitivo, para sempre, neste mundo. Desde então, me resignei sem reservas e reencontrei a paz.
(...)
Sozinho para o resto de minha vida, visto que encontro apenas em mim o consolo, a esperança e a paz, só devo e quero me ocupar de mim. (...) Destino meus últimos dias a estudar a mim mesmo e a pareparar com antecipação as contas que não tardarei a prestar sobre mim. Entreguemo-nos por inteiro à doçura de conversar com minha alma.
(...)
O hábito de entrar em mim mesmo por fim me fez perder a sensação e quase a lembrança de meus males; aprendi, assim, por minha própria experiência, que a fonte da verdadeira felicidade está em nós e que não depende dos homens tornar miserável aquele que sabe querer ser feliz."

in.: Os Devaneios do Caminhante Solitário

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