quarta-feira, 30 de novembro de 2011

sobre teresa, a treta

Mal tenho escrito, quanto mais cartas. Ando afogando-me no meu cotidiano sorrateiro: os dias passam ligeiro, dentre o trabalho, os estudos e os baseados. Agora sou aspirante a pedagoga. Sou desiludida do amor, sou solitária com leis morais próprias. Sou cristã e muçulmana, umbandista e daimista, hinduísta, hare krishna. Sou infantil e melancólica. Sou tia, professora, poetisa, escritora. Agora sou analisanda e saudosista, me lembro dos momentos felizes e tenho raiva pois sou mimada e quero aquilo de novo aqui e agora. Não cresço porque não quero? Não, não cresço pois não tem pra onde: esse mundo nunca me aconchega bem, é um mundo desconfortável e injusto, esse mundo nosso de carros financiados e impostos de renda, esse mundo dos desejos consumistas e dos amores-quo: ser como são os ricos, estar como estão os bem-sucedidos. Dinheiro e poder! O que é o amor diante disso? Mera fantasia romântica ultrapassada que fracassados vestem para ornamentar suas vidinhas insignificantes. Pois, ora, o mundo é para os fortes, os grandes investidores, o mundo é dos espertos, daqueles com contas bancárias sem limites. O mundo é esse dos casamentos comprados de 2 em 2 anos.

Então não cresço mais pois não caibo nesse mundo. Não, não dá. Vou ficar aqui na minha, pequenina e perdedora. Sem paroxismos: somente isso, essa massa pequenina e amorfa, feita de sentimentos, preenchida com emoções. Eu pequena que sofro de amor e odeio por egoísmo. Eu que erro. Eu que me engano e que me decepciono de quando em quando.

Sou eu agora. Eu solteira. Eu maconheira. Eu que durmo e durmo cada vez mais, pois sou eu: cansada. Estou envelhecendo cedo demais. Mesmo sem crescer: cá eu uma criança velha, brincando sozinha com minhas palavras, sonhando sozinha meus absurdos surreais: pirâmides na Amazônia, encontros com Jesus, a era de Aquário, répteis que rastejam, humanos que voam, lá Maomé entrando em transe, a grande constelação de Leo nos indicando direções, borboletas que me beijam, o bezerro de ouro sendo derretido diante de meus olhos, as repetidas mortes do meu ser, sim, eu sou antiga como as estrelas e você tem estado comigo desde tempos imemoriais, pois você tem a essência mesma no seu peito que pulsa como o meu.

Eu agora. A artista. A errada. A que chora. A que come. A que, ainda só, insiste em ser duas: a que busca no outro a correspondência do olhar, um olhar apenas, aquele olhar, o olhar que é meu e que eu sonho um dia poder ser seu. Esse olhar de Teresa que Deus me deu.


in.: cartas p/ amarante

out/2011

3 comentários:

Daniel Vieira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Vieira disse...

O mundo não é dos ricos, dos investidores, dos poderosos. Eu poderia apostar que muitos deles compensam infelicidade fazendo dinheiro. Talvez você num baseado e numa música no violão se sinta muito mais feliz do que muita gente "de sucesso".

Sucesso não significa nada. Sucesso é uma palavra inventada pra descrever como os outros te invejam, e como você por outro lado é obrigado fingir que não inveja os outros.

Não crescer é não se encaixar no mundo? Depende. Em qual mundo? O mundo que você descreveu, das pessoas falsas, das contas a pagar e do sucesso? Ou o mundo de olhar o céu claro no aeroporto de Alto Paraíso? Ou o mundo de abraçar alguém por horas sem parar depois de uma boa transa, sem pensar na sua agenda? Ou quem sabe o mundo de um almoço na casa da vó, aquele macarrão que não importa quão quebrada e torta ela esteja, o macarrão nunca perde o sabor.

E o amor? Ornamento no mundo do "sucesso", mas certamente não no mundo do céu de Alto Paraíso.

Um beijo, do seu primo "de sucesso", e também cada vez mais cansado de ter que levantar da cama todo dia, sem ter o macarrão da vó e sem um céu de Alto Paraíso. E sem ter o ornamento que me faz mais falta nesse mundo. =)

treta disse...

acho que você compreendeu bem a crítica.
você é dos meus.

quanto ao amor, ainda tão distante, não é benção que qualquer um merece.

você merece! eu quem sabe um dia.
:-)
(ontem foi aniversário da tina. faltou você e bebel)