segunda-feira, 31 de outubro de 2011

PEQUENA ODE NAUFRAGADA

Não tenho medo, mas também não tenho coragem.

Cobarde! Fraca! Mas sem medo.

Por isso mesmo um tanto sem juízo

Mas oportunista.

Pois nada tão oportunista

Quanto alguém sem juízo.


Lá de fora correm carros

Engarrafados

E jogados ao mar, carros

Como bilhetes de náufragos

Sem saber aonde chegar

Mas com a expectativa de chegar

Marulhando na onda que leva

Como me leva, e eleva, leve eu

Que não temo em ter esperança:

Garrafas ao mar! Mãos ao volante!

Acende a vela do destino!

Ela lume vagamente

Bruxuleia com o tempo

Magicando encantamentos.


Olhei lá de fora e dessa vez o que vi

Foi uma flor morrendo.

Olhai aqui dentro: a flor é bela

Mesmo quando fenece: é bela.

Que belo então o morrer da esperança!

A flor verde dos amantes

Secando com o correr das lembranças!

Inda bela mesmo sob a débil

Melancolia do adeus:

Lá os bilhetes em garrafas jogados ao mar.

Aqui a espera demorada sem ter onde descansar.

Cobarde! Fraca! Sem coragem de acreditar!

Me vi náufraga naufragada

E ousei decidir ousar:

Não tenho medo

Pois nunca sei aonde vou chegar.


in.: os cadernos p/mim mesma

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