domingo, 17 de outubro de 2010

cartas para hugo em julho

Aí o cenário: cerradão cinza quebrado pelo amarelo do sol que se põe no horizonte seco. Árvores que retorcem lânguidas e harmoniosas na lentidão de seus movimentos autótrofos: tão sábias e tão serenas são elas! Para entortar a natureza corta ali a estrada de concreto dos homens, os veículos zunem motorizados e eu escuto em som amplificado o meu silêncio interior.

A solidão me lança à evasão nas coisas. Veja: a formiga passa logo ali embaixo. As nuvens são poucas, os ônibus barulhentos. Ah... Quem sou eu que diviso tudo isso?

Pouco de mim se escreve. Muito de mim se especula. Na minha escrita surgem várias vozes: não sei quem sou, mas cá estou contando os segundos desse pôr-do-sol no cerrado. Logo ali passa um quero-quero e mais pra lá voa um tesourinha. Os mosquitos me pousam e eu vou embora adentrar o tempo.


Um comentário:

Clayton C. disse...

é tão gostoso de ler e verdadeiro, bem escrito, adorei