sexta-feira, 24 de abril de 2009

palavras ao vento

Desserenizo-me. Estou à deriva e quero desafiar o equilíbrio das coisas: trêmulas sombras no limite dos corpos. No horizonte a manhã se colore sombria e cinza, o sol se esconde com medo da densidade da chuva que vem apagar o fogo. Escureço ao redor. Gris melancolia trazendo o tom da minha imaginação criadora. Mais tremores nos limites das coisas: é meu coração que pulsa ou o derredor que sopra? É a maré dos ventos me bombeando vida pelas veias, a força do invisível a habitar os vãos de meu eu.
Meu corpo sonha uma alma. Ela tem um rosto de Lua, iluminado e pálido, cheio de solidão. Meu corpo sonha uma alma. Seu corpo são raízes infiltrando-se na terra úmida e fria que se abrasa com a vida que invade. Sonhos de resgate, desejos de dissipação. Meu corpo imagina o intangível que se solidifica no material onírico que nasce com o balançar das árvores do meu jardim. Ela tem os gestos verdes e o semblante carregado de placidez. Eu a procuro.


In Cartas para Heloisa Árvore

3 comentários:

dom noronha disse...

mas a procuro nos lugares óbvios, onde poderia estar e ser encontrada. nos lugares onde ando, por onde passo, em que minhas narinas cheiram os odores mais recônditos. ela não está. e não está simplesmente porque ela é adversa daquilo que sou e daquilo que meus cansados olhos conseguem perceber. mas a alma não anseia assim... a alma deseja que ela fosse como sou para que a mesmisse tomasse o lugar dos sons, das ondas, das manhãs. eu teria, então, o silêncio de ninfas, o lago tranquilo, o dia rasgando mansamente a escuridão da noite e fazendo bruma.
é isso!
teimo em procurar onde não está, aquilo que está, exatamente, onde penso não pertencer aos meus dias.

°Lua° disse...

"... uma das sensações mais intensas e pertubadoras que se pode experimentar é um passeio de montanha-russa. [...]A própria decisão de entrar na brincadeira já requer alguma coragem, a gente sabe que a emoção pode ser forte demais e que podem decorrer consequencias imprevisiveis. [...] a primeira fase até que é tranquila, a coisa se põe a subir num ritmo controlado, seguro, previsivel... é o máximo ver tudo de uma perspectiva superior, dominante, se estendendo ao infinito.[...] Não é que não se consiga pensar, não se consegue sentir também..."

treta disse...

e assim as palavras dizem
e eu escuto