sábado, 12 de maio de 2012

exorcismo derradeiro

Hoje é que são outras: estou tentando controlar as emoções, e a saída é mergulhar num conformismo que faz tudo perder a cor. Procuro enfadada o charme dessa vida em preto e branco tomando expressos e ouvindo músicas espirituais. Um ponto de macumba aqui, um hino ayahuasqueiro ali, um nashid islâmico acolá, um gospel e um mantra pra finalizar. Qualquer mensagem de força dos mundos benfazejos do espírito, pois as sombras que me tomavam vez ou outra vêm tenebrosas povoar meus pensamentos, a tristeza impera, o ódio ecoa, o rancor se aprofunda. Cuspo na cara do meu pai, fujo da minha responsabilidade de filha, onero o patrimônio de minha memória às custas do meu próprio pesar. E todos meus atos soarão pela eternidade afora, imutáveis, inapagáveis. Então preciso controlar as emoções, essas irracionalidades ancestrais que carrego em meu sangue. Essas catarses animalescas que sinto no correr das lágrimas e no timbre dos sorrisos. Estou a desvendar faces minhas que nunca imaginei ter. Horrores absurdos diante do espelho. Meu desafio maior é carregar o fardo cármico de meu eu desconhecido.

Dói a conformidade. Ela traz serenidade mas está encharcada de melancolia.

Procuro a indagação, novamente:

Como saber a próxima pergunta?
Ah, meu ser incessável,
Minha ansiedade insaciáve!


O beijo, a véspera do escarro,

não deve mais haver.

A boca se fecha calada
Esperando finalmente
O seu alvorecer.

O sol se põe para todos.

in.: cartas p/ amarante

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