quarta-feira, 17 de outubro de 2012

SENTADO NO BAR ESPERANDO A MOÇA QUE NUNCA VEIO



A cidade excita os olhos
Do menino que em mim vive.
Um sax na mesa ao lado
Acariciando o ouvido.
Eu, um cidadão sentido,
Chorando minha insuficiência qualquer.
As palmas não são para mim
Mas para o sentimento escondido
Que ninguém assume ter.
A cidade entorpece a alma
E endurece o coração
Do menino que se faz homem
Bebendo cerveja ao lado.
Somos sons urbanos
Tocados para agradar os bêbados.
Pesados, os sentidos nos enganam.
Ano após ano,
Decepção após decepção.
Amanhã batemos ponto
Em nossos escritórios
Depois de amanhã batemos ponto
Em nossos calabouços.
Mas quando saímos a alargar as gravatas nos pescoços suados,
Então excitamos a alma
E abraçamos a cidade com todos os seus prazeres transitórios
E bebemos.
Altivos e humildes
Chorosos e risonhos
Homens a gastar
Nossos suados salários.

O sax ainda toca alegrando as mesas
A noite cura
Minha qualquer insuficiência.
A cerveja é a eloqüência
Desse poema que dura
Só para terminar.

in.: os cadernos para mim mesmo, 05-10-12

Nenhum comentário: