quarta-feira, 1 de junho de 2011

O DESESPERO DA TÍSICA METAFÓRICA

Hoje meus olhos têm a cor do desencanto e minha vida tem a tristeza das tragédias. Encontro-me na masmorra de mim mesma. Tenho os pés atados a grilhões que me prendem nos subterrâneos úmidos de meu ser. Se vem a tosse, vem o sangue: ele se derrama pela minha boca que vocifera gritos de socorro que não serão ouvidos por ninguém.

Mais tosse. Mais sangue. Mais lágrimas de desencanto. Perdi meu reino sagrado, minha fortaleza ruiu. Tudo à custa do meu próprio pendor para o fracasso.

A humilhação me fez prisioneira e eu me arrependi de ter existido. Mas não culpei as pernas de minha mãe por terem se aberto. Culpei a mim mesma, por ter respirado.

Então hoje olho ao redor e tudo se tornou nada e eu pensei que só assim eu sobreviveria: tornando-me também nada.

Mas eu estava enganada.

Foi assim que morri.


in.: conto sem conta

cartas p/ felipe, fev/2011

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