quinta-feira, 22 de abril de 2010

BRASÍLIA 50 ANOS

A esquadrilha da fumaça dá rasante pelo céu. Sou tomada pela minha tristezaalegre enquanto o feriado no parque da cidade pinica sob a sombra gostosa de uma árvore e eu penosa tento recolher os cacos da minha intrigante história. Com lágrimas nos olhos e sorrisos nos lábios desfaço meu tempo desacreditando no amanhã e buscando toda a enorme força do hoje em que me espelho: reflexo mutante como a Brasília Elefante que se me atravessa com a esquadrilha da fumaça passando novamente no céu que se azula amarelando as nuvens. Que houve com os sonhos de Brasília? Em que latrina deram nossos representantes!
Mas o avião novamente
A ex-quadrilha
De novos candangos
Atravessa o céu da poesia e,
Quem diria
Sonha com dias melhores
Em ressacas de shows gratuitos.
Pedalando bicicletas em tardes verdes
No parque da cidade
Renatando as camelas
Recortando a semântica
Destilando os venenos
Amaldiçoando folhas de arruda
Impotente diante dos jornais
Ouvindo GOG dar idéia
E todo mundo ouvir
E ninguém fazer nada
E beber mais uma gelada
E fumar mais uma marafa
E ninguém sem fazer nada
Os pobres ouvindo, os pobres morrendo
Os ricos sorrindo, a miséria crescendo
E Brasília escancarada:
Babilônia
sodomizada!
Senhor Deputado,
onde quer levar o dinheiro?
No pé ou na bunda?
Meia ou cueca?
Que vexa!
Brasíla 50 anos. Onde sonhastes teus sonhos?
Teus filhos são tão medonhos
Teus risos, aleatórios
Tuas pragas,
licitações roubadas.
Assim termino, com uma trava no verso, diante de meus excessos da vida que me vivi, dos sonhos que deixei desacreditados.
Da descrença mórbida diante do futuro do capitalismo totalitário.
Eu sou Brasília
No verso que é desenhado.

2 comentários:

dom noronha disse...

e pensar que estou aqui, o Lúcio Costa dessas linhas traçadas, o Niemeyer dessas peças encantadas que a sua cabeça nos brinda!

treta disse...

não chego a tal primor arquitetônico, dom.

mas elogios sempre são afagos.

obrigada!