Não tenho medo, mas também não tenho coragem.
Cobarde! Fraca! Mas sem medo.
Por isso mesmo um tanto sem juízo
Mas oportunista.
Pois nada tão oportunista
Quanto alguém sem juízo.
Lá de fora correm carros
Engarrafados
E jogados ao mar, carros
Como bilhetes de náufragos
Sem saber aonde chegar
Mas com a expectativa de chegar
Marulhando na onda que leva
Como me leva, e eleva, leve eu
Que não temo em ter esperança:
Garrafas ao mar! Mãos ao volante!
Acende a vela do destino!
Ela lume vagamente
Bruxuleia com o tempo
Magicando encantamentos.
Olhei lá de fora e dessa vez o que vi
Foi uma flor morrendo.
Olhai aqui dentro: a flor é bela
Mesmo quando fenece: é bela.
Que belo então o morrer da esperança!
A flor verde dos amantes
Secando com o correr das lembranças!
Inda bela mesmo sob a débil
Melancolia do adeus:
Lá os bilhetes em garrafas jogados ao mar.
Aqui a espera demorada sem ter onde descansar.
Cobarde! Fraca! Sem coragem de acreditar!
Me vi náufraga naufragada
E ousei decidir ousar:
Não tenho medo
Pois nunca sei aonde vou chegar.
in.: os cadernos p/mim mesma
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