Sento-me sob a goiabeira. Respiro os segundos.
Estou sorrateira: é um gato no escuro,
Um rato entre os esgotos.
Sento-me sobre os significados:
São desperdícios, são inovações, são qualquer coisa.
Peças que não se encaixam na estrofe que quer dizer tudo.
Outro rato me desafia ligeiro: hei-lo, cinzento.
É o sol que se esconde atrás das nuvens.
É o amor que tenho e que esqueço na gaveta do porão.
Sento-me no nada: flutuo entre as coisas e a semântica é quimera.
Olhe: ali alguém morreu e aqui sua alma reverbera.
Há segundos entre os versos: eles se desprendem da intenção para encontrar a dúvida criadora.
Santa ignorância, essa dos poetas que não sabem o que dizer
Mas sentem. Sinta como sentem: furor de sensações, lágrimas que dizimam.
Há um deles dependurado pelo pescoço na árvore dos românticos.
Há outro emendando migalhas de palavras no salão dos modernistas.
Mas estão todos com o coração desenhado nos rostos contraídos
Os poetas traídos pela sombra da goiabeira que não sabe o que dizer
Eles que perscrutam ratos e cobras, gatos, ornitorrincos, antas.
Poetas com signos nos dedos e incongruências cósmicas na alma
A ouvirem o rugir do silêncio.
In.: cartas para dra. L
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