Carta de Allen a Bill durante a viagem ao Peru onde esteve a comungar o yage, ou ayahuasca
10 de junho de 1960
"Ayahuasca pode ser engarrafada e transportada e mantém-se forte, se não fermentar - a garrafa precisa estar bem fechada. Tomei uma xícara: a mistura estava um pouco velha, tinha sido feita há muitos dias e um pouco fermentada também; deitei-me e depois de uma hora (numa choça de bambu, [...] comecei a ver ou sentir o que pensei ser o Grande Ser, ou alguma de suas manifestações [...]
Bem, encurtando a história, fui a uma sessão de grupo formal ontem à noite - dessa vez a mistura estava fresca e apresentada com todo o cerimonial, ele cantarolava (e assoprava fumaça de cigarro ou cachimbo) docemente sobre a xícara alguns minutos antes [...], então acendi um cigarro, dei uma baforada sobre a xícara e bebi. Vi uma estrela cadente - aerolito - antes de entrar, e a lua cheia, e me serviu primeiro. Então deitei-me esperando sabe Deus que outra visão agradável, então começou a bater e então toda essa porra de cosmos desprendeu-se à minha volta, acho que foi a coisa mais forte e pior que já me aconteceu [...]
senti-me como uma cobra vomitando o universo, ou um jívaro de cocar com dentes de cobra vomitando ao compreender o Assassinato do Universo - minha morte por vir - a morte de todos por vir - ninguém está preparado - eu não estou preparado - ao meu redor, nas árvores, o barulho desses animais espectrais, os outros bebedores vomitando (parte normal das sessões de Cura) na noite de sua horrível solidão no universo - vomitando sua vontade de viver, de ser preservado nesse corpo, quase - [...]
Toda cabana parecia rajada de presenças espectrais, todas sofrendo transfigurações pelo contato com uma única coisa misteriosa que era nosso desino e que, mais cedo ou mais tarde, nos mataria [...] criaturas espectrais colocadas aqui misteriosamente para viver, serem Deuses vivos e sofrerem a Crucificação da morte como Cristo, mas se perdem ou morrem na alma ou entram em contato e têm um novo nascimento para continuar o Processo de ser (apesar de eles mesmos morrerem, ou não?
[...] disse que quanto mais se satura de ayahuasca, mais fundo se vai - visitar a lua, ver os mortos, ver Deus - ver os espíritos das árvores etc.
[...] essa quase esquizofrênica alteração da consciência é apavorante.
Resposta de Bill a Allen
21 de julho de 1960
"Não há nada a temer. Vaya adelante. Olha. Escuta. Ouve. Tua consciência ayahuaski é mais válida que a sua "consciência normal"?"Consciência Normal" de quem? Por que voltar a ela? Por que está surpreso em me ver? Você está seguindo meus passos. Conheço vosso caminho. Sim, conheço a área melhor do que você pensa. Tentei contar a você mais de uma vez, comunicar o que sei. Você não ouviu, ou não conseguiu ouvir. "Não se pode mostrar a alguém algo que essa pessoa não viu." Hassan Sabbah citado por Bryon Bysin. Ouviu agora? [...]"
in.: Cartas do yage. William Burroughs & Allen Ginsberg
Tradução de Bettina Becker
10 de junho de 1960
"Ayahuasca pode ser engarrafada e transportada e mantém-se forte, se não fermentar - a garrafa precisa estar bem fechada. Tomei uma xícara: a mistura estava um pouco velha, tinha sido feita há muitos dias e um pouco fermentada também; deitei-me e depois de uma hora (numa choça de bambu, [...] comecei a ver ou sentir o que pensei ser o Grande Ser, ou alguma de suas manifestações [...]
Bem, encurtando a história, fui a uma sessão de grupo formal ontem à noite - dessa vez a mistura estava fresca e apresentada com todo o cerimonial, ele cantarolava (e assoprava fumaça de cigarro ou cachimbo) docemente sobre a xícara alguns minutos antes [...], então acendi um cigarro, dei uma baforada sobre a xícara e bebi. Vi uma estrela cadente - aerolito - antes de entrar, e a lua cheia, e me serviu primeiro. Então deitei-me esperando sabe Deus que outra visão agradável, então começou a bater e então toda essa porra de cosmos desprendeu-se à minha volta, acho que foi a coisa mais forte e pior que já me aconteceu [...]
senti-me como uma cobra vomitando o universo, ou um jívaro de cocar com dentes de cobra vomitando ao compreender o Assassinato do Universo - minha morte por vir - a morte de todos por vir - ninguém está preparado - eu não estou preparado - ao meu redor, nas árvores, o barulho desses animais espectrais, os outros bebedores vomitando (parte normal das sessões de Cura) na noite de sua horrível solidão no universo - vomitando sua vontade de viver, de ser preservado nesse corpo, quase - [...]
Toda cabana parecia rajada de presenças espectrais, todas sofrendo transfigurações pelo contato com uma única coisa misteriosa que era nosso desino e que, mais cedo ou mais tarde, nos mataria [...] criaturas espectrais colocadas aqui misteriosamente para viver, serem Deuses vivos e sofrerem a Crucificação da morte como Cristo, mas se perdem ou morrem na alma ou entram em contato e têm um novo nascimento para continuar o Processo de ser (apesar de eles mesmos morrerem, ou não?
[...] disse que quanto mais se satura de ayahuasca, mais fundo se vai - visitar a lua, ver os mortos, ver Deus - ver os espíritos das árvores etc.
[...] essa quase esquizofrênica alteração da consciência é apavorante.
Resposta de Bill a Allen
21 de julho de 1960
"Não há nada a temer. Vaya adelante. Olha. Escuta. Ouve. Tua consciência ayahuaski é mais válida que a sua "consciência normal"?"Consciência Normal" de quem? Por que voltar a ela? Por que está surpreso em me ver? Você está seguindo meus passos. Conheço vosso caminho. Sim, conheço a área melhor do que você pensa. Tentei contar a você mais de uma vez, comunicar o que sei. Você não ouviu, ou não conseguiu ouvir. "Não se pode mostrar a alguém algo que essa pessoa não viu." Hassan Sabbah citado por Bryon Bysin. Ouviu agora? [...]"
in.: Cartas do yage. William Burroughs & Allen Ginsberg
Tradução de Bettina Becker
5 comentários:
as datas estão com uma falha... mas é interessante.
obrigada, dom.
as datas estão corretas agora.
abraços
Princess du Aracá e Mãe Geraes..
Bate-me o recordo a JimJarmusch no mavioso DeadMan. Lá como cá ha 'Wllliams' e 'ayahuascas'. Para quem não conheceu, aproveito tua deixa e recomendo. .ambos.
Inda que prefira o Blake.
No mais, chicote nos lacaios.
Saude, musa
a.peste
Ode à
princess du Aracá..
.
..
Ser-aí dos meus entornos
devo abrir-me de um incômodo meu
um assombro infundado aos nossos
e caro por aparência mundana
.
incomoda-me não o Dom que tenho
mas aquele, o teu
e que / jamais / poderei sê-lo
.. ,,
agora pergunte-lhe:
O que será deste mundão sem nossos açoites?
..
a.peste
cara peste
q bonito.
não tenho licença poética para responder a isso.
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