terça-feira, 15 de março de 2005

LISPECTOR, Clarice

a felicidade é clandestina

eu adoro a clarice.
é incrível como a sua leitura, embora às vezes me dando vertigens, me preenche tanto e de maneira tão simbiótica, como que um assimilar inconsciente, uma marca que se dá sem se ver.

a trama da história é um concentrado de emoção.
a escrita é por vezes aparentemente ingênua, mas sublima.

"Quem nunca roubou não vai me entender. E quem nunca roubou rosas, então é que jamais poderá me entender. Eu, em pequena, roubava rosas. (...)
Começou assim. Numa das brincadeiras de 'essa casa é minha', paramos diante de uma que parecia um pequeno castelo. No fundo via-se o imenso pomar. E à frente em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas as flores.
Bem, mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entrebaterta cor-de-rosa-vivo. Fiquei feito boba, olhando com adimiração aquela rosa altaneira que nem mulher feita ainda não era. E então aconteceu: do fundo de meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria, ah como eu queria. E não havia jeito de obtê-la. (...) No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume."

LISPECTOR, Clarice. CEM ANOS DE PERDÃO

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